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A psicóloga Tânia Gaspar manifesta preocupação com o crescimento de comportamentos autolesivos entre crianças e jovens, um fenómeno que começa a surgir cada vez mais cedo. Em declarações à Lusa, a coordenadora do estudo Health Behavior School Aged Children em Portugal sublinha que estes atos representam uma forma de lidar com o sofrimento psicológico, com ou sem intenção suicidária.
Os recentes casos de Viseu, onde dois alunos morreram por suicídio, devem servir, na sua perspetiva, para abrir um debate necessário sobre saúde mental. “Sendo uma situação de alerta, acho que poderemos parar um bocadinho, pensar e aproveitar este acontecimento – já que aconteceu – para poder realmente falar sobre este tema”, afirmou.
A especialista adverte que um em cada quatro jovens portugueses recorre a estes comportamentos, um dado que reflete falhas sociais mais amplas. Os jovens não encontram, segundo a psicóloga, espaços seguros onde possam confiar e partilhar o que sentem. “Não sentem que têm apoio social, quer da escola, quer também da família, para esse acontecimento”, explicou.
Sobre a abordagem mediática destas questões, Tânia Gaspar defende um tratamento responsável, sem alarmismos. A forma como se comunica estas situações pode, caso contrário, gerar reações menos construtivas por parte de pais e educadores. “Muito pelo contrário, às vezes faz até com que os pais fiquem mais rígidos, mais proibitivos, mais aflitos, e isso não é propício a que as crianças e jovens se sintam mais seguros para poder falar”, acrescentou.
A criação de espaços nas escolas para discutir sentimentos como tristeza e solidão surge como medida urgente. A psicóloga realça ainda a importância do acompanhamento pós-incidente, tanto para os alunos diretamente envolvidos como para os restantes colegas e professores. É fundamental, na sua opinião, assegurar a integração de estudantes que tenham tentado o suicídio, evitando que se sintam marginalizados.
O consumo de álcool entre adolescentes, frequentemente banalizado como parte do desenvolvimento, pode também esconder tentativas de lidar com angústia ou fobia social. Estes sinais exigem atenção redobrada, sustenta a investigadora.
O apoio especializado não deve limitar-se aos jovens, devendo estender-se às famílias, que ficam particularmente afetadas por estas situações. Para Tânia Gaspar, é crucial desenvolver trabalho junto dos pais, criando oportunidades para partilhar preocupações e identificar sinais de alerta.
A psicóloga defende ainda um reforço de psicólogos nas escolas, notando que estes profissionais se veem frequentemente assoberbados com tarefas administrativas ou de orientação vocacional, limitando a sua capacidade de intervenção preventiva.
NR/HN/Lusa



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