![]()
A LIDEL assinala o Dia Mundial da Saúde Mental, a 10 de outubro, com o lançamento de uma obra que coloca a tónica na intrincada e por vezes negligenciada ligação entre o bem-estar psicológico e o ambiente de trabalho. A publicação, que funciona como um amplo ponto de encontro de saberes, é coordenada pelo psiquiatra e tenente-coronel Pedro Moura e pelo médico psiquiatra e professor Afonso Gouveia, da NOVA Medical School.
A pertinência do tema é sublinhada por dados da Organização Mundial de Saúde, que no seu World Mental Health Report de 2022 estimou existirem mil milhões de trabalhadores a viver com uma perturbação mental. Em 2019, 15% da força laboral global enfrentava problemas psicológicos. O prefácio, da autoria de Ana Matos Pires, da Coordenação Nacional das Políticas de Saúde Mental, vai mais longe ao quantificar o impacto económico destas patologias, situando-o entre 3% e 5% do Produto Interno Bruto. “Portugal não fica bem na fotografia”, admite, referindo que 27% da população portuguesa tem problemas de saúde mental identificados anualmente, um valor superior à média de 24%. Para a economia nacional, o custo ronda os 3% do PIB.
A ambição desta obra, que conta com a colaboração de mais de 90 especialistas nacionais e internacionais, é precisamente a de oferecer ferramentas para inverter esta realidade. Não se trata de um mero manual, mas de uma tentativa de mapear um território complexo onde o trabalho e a saúde mental se influenciam mutuamente, podendo o emprego ser tanto um fator de proteção como um agente promotor de doença. A abordagem é necessariamente pluridisciplinar, dirigindo-se a um leque alargado de profissionais, desde médicos do trabalho e psiquiatras a gestores, juristas e técnicos de segurança.
No posfácio, Manuela Abreu, da Direção da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, defende que a partir destas páginas podem ser implementadas estratégias de prevenção que beneficiem simultaneamente a saúde das pessoas e a sua performance, ajudando a conter o absentismo. “Aconselho vivamente a leitura deste livro”, sustenta, enfatizando o valor prático do conteúdo.
Ao longo dos capítulos, explora-se como a natureza do trabalho se transformou de forma radical nas últimas décadas. Já não se procura um emprego para a vida, lê-se num dos textos introdutórios, e as organizações que desejam atrair e reter talento são forçadas a compreender o que verdadeiramente motiva os colaboradores. Criar uma cultura de bem-estar e confiança deixa de ser um capricho para se tornar numa exigência estratégica. O volume serve, assim, como um importante ponto de partida para reflexões e práticas que procurem conciliar, sem falsas dicotomias, o bem-estar individual com a produtividade e a resiliência das organizações.
PR/HN



0 Comments