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A província angolana do Uíje regista um crescimento abrupto de mais de setecentos novos casos de cólera, um dado que obriga a um reposicionamento urgente da estratégia de combate à doença. Esta escalada local ocorre no contexto de um surto nacional que, desde janeiro, totaliza 30.688 infeções e 837 óbitos, espalhando-se por dezoito das vinte e uma províncias do país. A taxa de letalidade mantém-se nos 2,7%, espelhando um desafio sanitário de larga escala.
Em resposta à crise, uma equipa multissetorial chefiada pela ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, deslocou-se ao Uíje. No terreno, a governante reconheceu a gravidade das estatísticas recentes. “Perante as estatísticas que temos nas últimas semanas precisamos de reforçar as medidas, estas vão ser reforçadas em conjunto, com a promoção de saúde, comunicação de risco e educar a nossa população que a cólera existe, é um facto aqui na sua localidade e o que se deve fazer em situação de contaminação”, afirmou Lutucuta em declarações à TPA. A resposta de emergência materializou-se na instalação imediata de tanques de água tratada nas zonas de maior risco e na abertura de postos de hidratação oral, uma linha de defesa crucial contra a desidratação fatal.
O cerne do problema, contudo, parece cimentado numa carência crónica. Os bairros periféricos do Uíje, onde o surto mais se faz sentir, são precisamente os que padecem da falta de água canalizada. Esta realidade repete um padrão já identificado noutros pontos do país. Em março passado, o município de Cacuaco, em Luanda, foi considerado o epicentro do surto, situação que os moradores locais atribuíam diretamente à dependência de água de tanques comunitários de qualidade duvidosa. “Dependemos da água dos tanques, que não sabemos se é potável ou não”, confessou então Pinto Melo, um morador, num relato que espelha a atual vulnerabilidade no Uíje.
O governador provincial, José Carvalho da Rocha, tentou projetar tranquilidade ao referir que todas as zonas afetadas estão abrangidas por um projeto de 17.000 ligações de água, ainda em implementação. Contudo, a urgência do momento força soluções paliativas. “Estamos a enfrentar uma situação emergencial, daí o fornecimento de água por pipas”, admitiu o governante. Esta solução de recurso, embora necessária, evidencia a fragilidade dos sistemas de abastecimento.
Para além do fornecimento de água, as autoridades reforçaram a vigilância epidemiológica e as brigadas móveis, numa tentativa de conter a propagação. A mobilização social é outro pilar desta ofensiva, com as comissões de moradores e líderes comunitários a serem chamados a intervir em ações de sensibilização e educação sanitária. Esta abordagem reflete recomendações anteriores de especialistas, que já apontavam a necessidade de um “investimento massivo e urgente no saneamento básico e na água potável” como medida fundamental para travar não só a cólera, mas também outras doenças de foro diarreico.
O mais recente boletim de informação epidemiológica do Ministério da Saúde confirma que a ameaça se mantém ativa em várias frentes. Nas últimas 24 horas, Angola registou 121 novos casos de cólera, com a Lunda Norte (58), o Uíje (33) e a Huíla (14) a liderarem as ocorrências. Estes números, particularmente os do Uíje, representam um claro desvio em relação aos valores baixos que se registavam em meses anteriores, sinalizando uma nova e perigosa fase na epidemia que assola o país.
NR/HN/Lusa



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