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Uma nova abordagem que combina luz de LEDs com nanomateriais conseguiu eliminar uma percentagem significativa de células de cancro da pele e do cólon em testes de laboratório, anunciaram esta quinta-feira investigadores da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). O procedimento, que recusa a complexidade dos lasers, aponta para um futuro de terapias fototérmicas mais portáteis e economicamente viáveis.
O trabalho, desenvolvido em parceria com a University of Texas at Austin, centrou-se na transformação de pó de dissulfeto de estanho em nanoflocos de óxido de estanho. Estas partículas minúsculas, quando iluminadas por luz infravermelha próxima, aquecem de forma localizada. O segredo está nessa capacidade de absorver energia luminosa e convertê-la em calor, um fenómeno conhecido como efeito fototérmico.
Artur Moreira Pinto, coordenador do projeto pela FEUP, sublinha a mudança de paradigma. “Mostrámos que é possível combinar nanomateriais com LEDs para obter uma fototerapia eficaz e seletiva contra células tumorais. Os LEDs, ao contrário dos lasers, são mais seguros, baratos e de pequenas dimensões”, descreve o investigador. Esta simplicidade operacional poderá, no futuro, facilitar a aplicação de tratamentos fora do ambiente hospitalar tradicional, nomeadamente em regiões com acesso limitado a tecnologia de ponta.
Publicado a 16 de setembro na revista ACS Nano, o estudo demonstrou a ação destes “nano-aquecedores” contra duas linhas celulares específicas. Os resultados mostram que, em apenas trinta minutos de exposição, a terapia fototérmica foi capaz de destruir cerca de metade das células de cancro do cólon e uma esmagadora percentagem de 92% das células de cancro de pele. O mais curioso, contudo, é a seletividade observada. As células saudáveis, por serem aparentemente mais resilientes ao stress térmico, mostraram-se menos afetadas pelo aquecimento localizado.
A FEUP realça os benefícios biomédicos de um procedimento que não recorre a químicos tóxicos, à semelhança do que acontece na quimioterapia convencional. O perfil de segurança parece assim melhorado, aliado a uma eficiência que deriva de uma conversão de luz em calor particularmente eficaz. A luz utilizada, invisível ao olho humano, tem ainda a vantagem de conseguir penetrar a pele e os tecidos sem grandes obstáculos.
Esta linha de investigação surge num contexto em que o cancro se mantém como a segunda principal causa de morte a nível global. Os tratamentos habituais esbarram frequentemente em limitações duras: baixa eficácia, resistência desenvolvida pelos tumores e efeitos secundários por vezes severos. Alternativas mais recentes, como a imunoterapia, esmagam os orçamentos de muitos sistemas de saúde. O caminho aberto por esta colaboração de longa duração entre Artur Moreira Pinto e Jean Anne C. Incorvia, da UT Austin, pretende contrariar essa tendência. O objetivo, garante Moreira Pinto, é continuar a desenvolver abordagens mais acessíveis e seguras, na esperança de contribuir para terapias mais eficazes e com um risco de recorrência menor.
NR/HN



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