Saúde mental: equipas comunitárias mostram eficácia e poupança significativa para o SNS

10 de Outubro 2025

Cinco equipas comunitárias de saúde mental permitiram em 2023 uma redução superior a 26% nos internamentos e uma poupança anual estimada de 2,3 a 2,6 milhões de euros para o Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Os resultados da avaliação económica das equipas comunitárias de saúde mental financiadas pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) que a Coordenação Nacional das Políticas de Saúde Mental vai hoje apresentar, em Lisboa, indicam que, em 2023, o trabalho destes profissionais permitiu reduzir mais de 30% os dias de internamento e 46,7% os reinternamentos.

O estudo, a que a Lusa teve acesso, analisou cinco das 40 equipas comunitárias de saúde mental financiadas pelo PRR e mostra resultados consistentes: em 2022 já se tinha registado uma redução de 28,4% no número de internamentos, de 26% nos dias de internamento e de 38,4% nos reinternamentos.

Em termos económicos, o retorno estimado foi de 12,90 euros por cada euro investido em 2022 e de 14,50 euros em 2023. As poupanças anuais nestas cinco equipas ascendem a 2,3 milhões de euros, valor suficiente para financiar entre 11 a 13 novas equipas.

“O retorno oferecido é absolutamente avassalador”, considerou o coordenador nacional das políticas de saúde mental, Miguel Xavier, lembrando:”se isto foi o estimado para estas cinco equipas, imagine de 50”.

Em declarações à Lusa, o responsável explicou que cada equipa de saúde mental custa cerca de 170 mil euros/ano e disse que, com estes dados na mão, é preciso “garantir que estas equipas se mantêm e que todo o território fica coberto”.

Miguel Xavier disse ainda que o estudo foi feito com equipas do PRR, ou seja, completas, lembrando que muitas das outras equipas já espalhadas pelo país não estão completas.

“O nosso trabalho daqui para a frente, mostrando o grande valor de custo-benefício, é que algum deste dinheiro possa ser aplicado, naturalmente, no reforço das equipes que existem”, defendeu.

Disse que no total o país tem cerca de 100 equipas comunitárias de saúde mental, mas várias estão incompletas. “E estes resultados só se conseguem com equipas completas. Isto é mesmo um trabalho de equipa”, insistiu.

Miguel Xavier lembrou ainda um fator que “faz toda a diferença” no trabalho destes profissionais: “Quando nós montámos as equipes PRR, demos um carro a cada uma. Só assim conseguem ter um meio de transporte para ir a casa das pessoas”.

O responsável disse ainda que, neste momento, está a decorrer um concurso de um milhão de euros para dar carros às equipas que não foram financiadas pelo PRR.

“O impacto das equipas comunitárias de saúde mental ultrapassa os números: promove proximidade, continuidade de cuidados e reduz desigualdades. Estes resultados mostram a sustentabilidade e o potencial de expansão do modelo”, sublinhou.

As 40 equipas (de adultos e de infância e adolescência) financiadas pelo PRR prestam cuidados globais de saúde mental na comunidade a populações entre 50.000 a 100.000 habitantes, em articulação com os cuidados de saúde primários, hospitalares e parceiros sociais.

Além dos benefícios clínicos e económicos, a intervenção das equipas comunitárias de saúde mental tem um impacto ambiental mensurável: nas cinco áreas avaliadas, a redução de 26% do número de dias de internamento em 2022 face a 2019 traduz-se numa poupança estimada de 25–34 toneladas/ano de resíduos hospitalares (assumindo 6–8 kg/cama/dia).

Extrapolando para o país, e com base na produção hospitalar de 2022, uma redução de 28,4% no número de pessoas internadas equivaleria a cerca de 4.000 internamentos e 86 mil dias de internamento evitados por ano, correspondendo a 520–690 toneladas/ano de resíduos hospitalares evitados.

Os resultados deste estudo vão ser apresentados hoje – Dia Mundial da Saúde Mental -, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

lusa/HN

1 Comment

  1. ANA RAQUEL DIAS ALVES

    Apresentação ontem dia 10.10.25 CCB pelo Coordenador Politicas de Saúde Mental e Ministra da Saúde

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