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Num revés que ameaça a delicada arquitetura do cessar-fogo, a principal organização israelita que representa os familiares dos capturados a 7 de outubro afirmou ter recebido uma informação que mergulhou todos num novo abismo de angústia. O Hamas, segundo a mesma fonte, prepara-se para entregar nesta terça-feira, 13 de outubro de 2025, apenas quatro dos corpos dos reféns falecidos sob a sua custódia.
Num comunicado que transpira frustração e uma raiva contida, o Fórum das Famílias dos Reféns descreveu o sentimento de “choque e consternação” que varreu as famílias perante a notícia. A organização não se coibiu de classificar o ato como uma “violação flagrante” dos termos previamente estabelecidos, lançando um apelo direto ao Governo israelita e aos mediadores internacionais para que intervenham de forma a “corrigir esta grave injustiça”. A expectativa era a de que todos os 28 corpos fossem repatriados no âmbito do mesmo entendimento.
Este desenvolvimento sombrio surge paradoxalmente no mesmo dia em que o grupo islamista palestiniano concluiu a libertação de todos os 20 reféns vivos que mantinha em Gaza. A operação desenrolou-se em duas fases, com sete pessoas a serem libertadas ao nascer do dia e as restantes treze a seguirem-se horas mais tarde. Todos os indivíduos libertados, do sexo masculino, já se reuniram com os seus familiares e aguardam agora a realização de exames médicos de rigor.
Do outro lado da barricada negocial, Israel cumpre a sua parte no intricado quid pro quo. O acordo prevê a libertação de aproximadamente 1.950 prisioneiros palestinianos detidos em cadeias israelitas. As autoridades não divulgaram, contudo, quantos efectivamente saíram hoje dos estabelecimentos prisionais, nem qual o calendário concreto para a soltura dos restantes, um silêncio que adensa a incerteza.
A discrepância entre a entrega total dos reféns vivos e a devolução parcial dos falecidos cria assim um novo e imprevisto ponto de atrito. Enquanto os corpos dos outros 24 reféns permanecem em Gaza, sem um horizonte claro para o seu regresso, o ambiente de relativa tranquilidade que o cessar-fogo instaurou revela-se precário. A questão transformou-se num incómodo diplomático de primeira grandeza, com potencial para reacender hostilidades se não for rapidamente ultrapassada. Os mediadores egípcios e qatares, segundo rumores não confirmados, trabalham nos bastidores para destravar este capítulo particularmente sensível.
NR/HN/Lusa



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