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Um manto de desconhecimento, particularmente espesso entre a população masculina, cobre a endometriose em Portugal. Dados de um inquérito nacional realizado pela Spirituc mostram que mais de 30% dos homens nunca ouviu falar desta condição ginecológica. O trabalho, desenvolvido no âmbito da campanha “A Minha Dor Não Me Define”, uma iniciativa da Gedeon Richter em colaboração com a Sociedade Portuguesa de Ginecologia e a MulherEndo, traça um retrato de lacunas informativas e de um fardo físico e psicológico suportado silenciosamente por milhares de mulheres.
A discrepância de conhecimento entre géneros é, de facto, gritante. Se apenas 8% das mulheres sem a doença a desconhecem, o valor dispara para um terço no caso dos homens. Apenas 29,5% dos inquiridos do sexo masculino afirmam saber exactamente o que é a endometriose, um contraste severo com os 61,8% de mulheres sem diagnóstico que possuem essa clareza. A perceção da gravidade da patologia também diverge: 63% das mulheres sem endometriose classificam-na como “muito” ou “extremamente grave”, uma opinião partilhada por menos de metade dos homens (46,9%).
Para as mulheres que vivem com a doença, a dor é uma companhia habitual. Quase metade (48,9%) enfrenta crises de dor pelo menos uma vez por semana, e mais de três quartos experienciam-nas mensalmente. Esta realidade traduz-se num obstáculo palpável no dia a dia: para 46% das inquiridas, a dor interfere de forma severa nas suas atividades rotineiras, enquanto outras 49% reportam um impacto moderado. O local de trabalho não escapa a este cenário, com as mulheres a faltarem, em média, cerca de 15 vezes em 2024 por motivos relacionados com a doença.
O custo humano da endometriose mede-se depois em esferas vitais. A vida sexual surge como a mais prejudicada, referida por 30,8% das diagnosticadas. Segue-se, de perto, um abalo profundo na saúde mental e autoestima (25,6%), uma área onde os números ganham contornos dramáticos. Mais de 70% das doentes confessam sofrer frequentemente de episódios de ansiedade, tristeza ou frustração. A vida profissional (20,9%), as relações sociais (12,8%) e os laços familiares (9,8%) completam um puzzle de disrupção generalizada.
Curiosamente, existe uma sintonia entre os sexos sobre quais as áreas da vida mais vulneráveis à doença, identificando conjuntamente a vida sexual, o bem-estar emocional e o desempenho profissional como os mais sensíveis. Este consenso, porém, não se reflete numa sensação de informação partilhada. Apenas 29,9% das doentes se sentem totalmente informadas sobre as opções de tratamento, e uma em cada cinco revela um conhecimento terapêutico escasso ou nulo.
O silêncio parece instalar-se também nos consultórios. Apenas duas em cada dez mulheres sem endometriose referem ter recebido informação sobre a doença por parte do seu médico. Este vazio informativo alimenta apreensões, com quase metade (49,5%) a admitir receio de poder vir a desenvolver a condição. Perante este quadro, um apelo por mais visibilidade soa de forma quase unânime. Quase todos os inquiridos (95%) defendem que a endometriose deveria ter maior destaque nos meios de comunicação social, um sentimento que é mais agudo entre as mulheres que carregam o diagnóstico.
O estudo, que envolveu 1446 indivíduos residentes em Portugal, com idades iguais ou superiores a 18 anos, foi conduzido através de questionários online (CAWI) entre 24 de julho e 25 de agosto de 2025. A margem de erro é de 2,58% para um intervalo de confiança de 95%. Mais pormenores podem ser consultados no [relatório completo](link não fornecido no original).
PR/HN



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