Implementação do SINACC arrasta-se até ao final do ano

14 de Outubro 2025

O novo sistema de acesso a cirurgias do SNS, que substitui o SIGIC, só estará totalmente operacional no final de 2025. A formação de profissionais nos hospitais justifica o adiamento face à previsão inicial de novembro

A entrada em funcionamento do Sistema Nacional de Acesso a Consultas e Cirurgias (SINACC) em todo o Serviço Nacional de Saúde sofreu um revés calendarizado e apenas deverá estar concluída no final do ano. A justificação avançada prende-se com a necessidade de alargar a formação dos utilizadores nas unidades hospitalares, um processo que, apesar de já decorrer, se encontra aquém do necessário.

Joana Mourão, coordenadora do grupo de trabalho responsável pelo desenvolvimento do sistema, confirmou o deslize no calendário, após inicialmente se ter projetado a operacionalidade total para finais de novembro. “É preciso formar mais pessoas”, admitiu, em declarações à Lusa. A responsável sustentou, no entanto, que os testes em curso na Unidade Local de Saúde de Coimbra, na ULS do Alto Ave e no IPO de Lisboa têm decorrido sem percalços e com um “bom feedback” das instituições envolvidas.

Concebido para substituir o tecnologicamente obsoleto SIGIC – sistema que gere as listas de espera cirúrgicas desde 2004 –, o SINACC promete uma maior transparência para os utentes, que poderão acompanhar de forma mais clara a sua posição nas listas. A plataforma será totalmente informatizada, obrigando à referenciação eletrónica de todos os doentes, independentemente de o pedio ter origem nos cuidados de saúde primários ou no hospital.

Uma mudança significativa reside na tentativa de eliminar distorções do modelo atual. Álvaro Almeida, diretor executivo do SNS, tinha já referido em audição parlamentar que o novo sistema vai impedir os médicos de selecionar as cirurgias a realizar em regime de produção adicional. Este mecanismo, que permite operar fora do horário normal com incentivos financeiros para reduzir listas, gerava um que ele próprio classificou de “incentivo perverso”: serviços com listas de espera mais longas podiam aceder a mais cirurgias adicionais. O SINACC foi desenhado para minimizar este efeito indesejado.

A criação do novo sistema está inscrita no Programa do Governo e integra o plano de emergência e transformação da Saúde aprovado em maio de 2024. A sua implementação, porém, esbarra agora no ritmo prático da formação interna, um obstáculo burocrático que adia a prometida modernização na gestão do tempo de espera dos doentes.

NR/HN/Lusa

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

RALS promove II Encontro de Literacia em Saúde

Viana do Castelo acolhe o II Encontro de Literacia em Saúde, organizado pela Rede Académica de Literacia em Saúde. O evento reúne especialistas e profissionais para debater estratégias de capacitação da população na gestão da sua saúde. A sessão de abertura contou com a presença de representantes da academia, do poder local e de instituições de saúde, realçando a importância do trabalho colaborativo nesta área

Estudantes veem curso de Medicina na UTAD como alívio para escolas sobrelotadas

A Associação Nacional de Estudantes de Medicina considerou hoje que a abertura do curso de Medicina na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro representa uma oportunidade para aliviar a sobrelotação nas restantes escolas médicas. O presidente da ANEM, Paulo Simões Peres, sugeriu que a nova oferta poderá permitir uma redução de vagas noutros estabelecimentos, transferindo-as para Vila Real, após a acreditação condicional do mestrado pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior.

Curso de Medicina da UTAD recebe luz verde condicional

A A3ES aprovou o mestrado em Medicina na UTAD, uma resposta à saturação das escolas médicas. A ANEM vê a medida com esperança, mas exige garantias de qualidade e investimento na formação prática.

Gouveia e Melo repudia uso político da crise na saúde

O candidato presidencial Henrique Gouveia e Melo criticou a tentativa de capitalizar politicamente os problemas na saúde, defendendo que o Presidente não deve interferir na governação. Falou durante uma ação de campanha em Viseu

Ventura convoca rivais para debate presidencial sobre saúde

O candidato André Ventura desafiou Gouveia e Melo, Marques Mendes e António José Seguro para um debate sobre saúde, em qualquer formato. Defende um novo modelo para o setor, criticando os consensos anteriores por apenas “despejar dinheiro” sem resolver problemas

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights