Investigadores da Universidade de Coimbra descobrem forma de acelerar cicatrização em doentes com diabetes

14 de Outubro 2025

 Um estudo liderado pela Universidade de Coimbra (UC) e pela Universidade de Roskilde (Dinamarca) demonstrou que a inibição de pequenas moléculas acelera a cicatrização das feridas de pessoas com diabetes.

A investigação aponta uma cicatrização quase total destas feridas ao fim de dez dias, através de uma abordagem molecular que inibe, em simultâneo, dois microARN, revelou hoje a UC, num comunicado enviado à agência Lusa.

A descoberta “pode abrir caminho ao desenvolvimento de novas terapias para melhorar o tratamento de feridas em pessoas diagnosticadas com diabetes”, cuja cicatrização “é lenta e complexa, o que favorece o aparecimento de úlceras difíceis de curar”.

Segundo os cientistas Ermelindo Leal e Eugénia Carvalho, o objetivo foi investigar se o bloqueio de dois microARN poderia auxiliar na cicatrização, nomeadamente o miR-146a-5p e o miR-29a-3p, pequenas moléculas que regulam a expressão genética e que descobriram estarem aumentadas na pele de pessoas com diabetes.

Os resultados abrem novas possibilidades para o desenvolvimento de terapias que atuem diretamente sobre estas duas moléculas, “com potencial para modular processos-chave envolvidos na cicatrização de feridas, como a inflamação, o stress oxidativo, a formação de novos vasos sanguíneos e a remodelação da matriz extracelular”, disseram os investigadores do grupo Obesidade, Diabetes e Complicações do Centro de Neurociências e Biologia Celular da UC e do Centro de Inovação em Biomedicina e Biotecnologia.

“Estes futuros alvos de terapia molecular podem ter o potencial de melhorar significativamente as feridas e a recuperação de doentes, podendo reduzir o tempo de internamento hospitalar, diminuir o risco de amputações e, assim, aliviar o peso económico e social associado”, avançaram.

Podem, igualmente, “potenciar estratégias semelhantes aplicadas a outras patologias marcadas por cicatrização deficiente ou inflamação crónica”.

De acordo com a UC, os resultados foram alcançados testando a consequência da inibição dos microARN através de moléculas desenhadas para o efeito, tanto em células humanas como em ratinhos com diabetes tipo um.

Posteriormente, foram analisadas as consequências ao nível da inflamação, formação de novos vasos sanguíneos e remodelação tecidular.

Nos testes com os animais, a abordagem “reduziu o tamanho das feridas de forma significativa em dez dias, com alterações que levaram a uma pele mais resistente e estruturalmente mais organizada”.

O estudo “tem grande relevância social, especialmente num contexto global em que a diabetes é uma doença que afeta milhões de pessoas – causando dor, infeções recorrentes, hospitalizações frequentes e até amputações – e apresenta uma tendência de crescimento contínuo”, destacaram Ermelindo Leal e Eugénia Carvalho.

lusa/HN

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