Programa da ONU revela que 51% dos habitantes do Haiti sofrem de fome

14 de Outubro 2025

No Haiti, 51% da população total já sofre de níveis agudos de fome, um novo recorde histórico para o país, onde a desnutrição infantil também aumentou de forma alarmante, segundo dados publicados hoje pelo Programa Alimentar Mundial (PAM).

“Um número recorde, de 5,7 milhões de pessoas – 51% da população total – está atualmente a sofrer de níveis agudos de fome, o que representa um aumento de 3% em relação ao ano passado”, indicou o PAM, programa das Nações Unidas em comunicado, citando dados da última análise da Classificação Integrada por Fases da Segurança Alimentar (CIF).

As taxas de desnutrição também aumentaram entre crianças menores de cinco anos, segundo a CIF, e o PAM alerta que as mulheres, as crianças e as famílias deslocadas são os mais afetados pela prolongada crise do Haiti.

A violência armada, a deterioração da economia do país, a inflação persistente e a fraca produção agrícola continuam a agravar a crise naquele Estado das Caraíbas, onde cerca de 4.239 pessoas foram assassinadas nos primeiros oito meses deste ano, de acordo com dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos.

Se as tendências atuais persistirem, mais de 5,9 milhões de pessoas poderão enfrentar uma insegurança alimentar aguda, ou pior até março de 2026, segundo o PAM, que especifica que nos departamentos do noroeste e do oeste, incluindo Porto Príncipe, a capital, as taxas de desnutrição atingiram níveis críticos (fase 4) ou superiores.

Além disso, estima-se que 1,3 milhões de haitianos deslocados pela violência armada estejam entre os mais afetados pela insegurança alimentar.

Três em cada quatro pessoas refugiadas em escolas e edifícios públicos enfrentam níveis de fome de crise (IPC 3) ou emergência (IPC 4), e a sobrelotação e insalubridade destes espaços, juntamente com o acesso limitado a alimentos nutritivos, expõem bebés e crianças pequenas a um maior risco de desnutrição.

No comunicado, a diretora do PAM no país, Wanja Kaaria, afirma que a organização intensificou a sua resposta para alcançar um “recorde de 2,2 milhões de haitianos este ano”, mas as necessidades continuam a superar os recursos.

“Se isto continuar, as famílias poderão cair ainda mais na fome, e simplesmente não temos recursos para satisfazer todas as necessidades crescentes”, afirma Kaaria.

O reforço da ajuda alimentar permitiu que cerca de 8.400 pessoas deslocadas passassem de níveis de fome catastróficos (IPC 5) para níveis de fome de emergência (IPC 4).

De forma geral, a assistência alimentar regular reduziu o número de haitianos que sofrem de insegurança alimentar de nível de emergência (IPC 4) em aproximadamente 200.000, desde abril de 2025.

“Com um apoio sustentado e previsível, podemos continuar a reduzir a insegurança alimentar, ao mesmo tempo que investimos em soluções duradouras que abordem as causas profundas da fome”, acrescenta Kaaria, destacando a importância de manter uma “estreita colaboração com os governos e os parceiros” para poder “reverter a tendência da fome”.

O organismo da ONU disse que precisa de 139 milhões de dólares (120,1 milhões de euros) para os próximos 12 meses para alcançar as famílias mais vulneráveis do país.

lusa/HN

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