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A menopausa nunca foi simplesmente uma questão de afrontamentos ou de fim de um ciclo. É, sobretudo, uma transição interior, um remanejamento profundo que toca o corpo e a psique. No Dia Mundial da Menopausa, que se assinala a 18 de Outubro, procura virar-se o foco para este lado menos visível da experiência, aquele que não se mede em graus de calor ou em exames, mas que se insinua no humor, no sono e na forma como uma mulher se percebe a si mesma.
A descida dos níveis de estrogénio, um eixo central nesta fase, atua sobre neurotransmissores como a serotonina. O resultado é uma paisagem emocional mais instável, por vezes marcada por uma ansiedade sem motivo claro, uma irritabilidade que surpreende, ou uma tristeza que teima em não levantar voo. São sintomas reais, mas que, por não se verem, acabam por ser subvalorizados, até pela própria mulher, que se culpa por não conseguir lidar com o que a sociedade insiste em pintar como um mero evento biológico.
“A menopausa não é uma doença — é uma passagem. Mas toda a passagem precisa de luz. O apoio psicológico e emocional é tão essencial como o físico”, defende a psicóloga clínica Helena Paixao, especializada na área. A visão sublinha que o cansaço persistente, os lapsos de memória ou a perda de confiança não são invenções de uma mente ociosa. São respostas orgânicas a uma mudança profunda, que interagem de forma complexa com os sintomas físicos, criando um ciclo por vezes difícil de quebrar.
O impacto estende-se de forma silenciosa à vida profissional, às relações pessoais, ao simples prazer de viver. E o silêncio social em torno do tema funciona como um agravante, fazendo com que muitas mulheres enfrentem esta batalha a sós, envergonhadas por um mal-estar que não ousam nomear.
Mudar este panorama exige uma nova conversa. É preciso criar espaços de partilha, formar os profissionais de saúde para olharem além do físico e construir ambientes laborais que compreendam esta fase. Trata-se, no fundo, de devolver à menopausa a sua dimensão humana, integrada e natural. Não como um fim, mas como um ponto de viragem a ser atravessado com apoio, informação e, acima de tudo, sem o peso extra do estigma.
PR/HN



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