Falta de regulação dos produtos naturais agrava desinformação em saúde em Portugal

16 de Outubro 2025

A diretora do projeto de fact-checking Viral Check, Sara Beatriz Monteiro, alertou para os riscos associados à falta de regulação dos produtos naturais, um fator que potencia a disseminação de desinformação em saúde. 

Segundo a jornalista, a perceção generalizada de que o natural é sempre mais seguro não corresponde à realidade, sobretudo porque estes produtos e suplementos não são sujeitos aos mesmos critérios rigorosos aplicados aos medicamentos. Esta ausência de controlo cria um ambiente propício à promoção de suplementos e tratamentos com promessas infundadas, frequentemente divulgados tanto nas redes sociais como em programas de entretenimento televisivo, atingindo especialmente pessoas com menor literacia mediática e científica.

Sara Beatriz Monteiro sublinhou que a desinformação em saúde tem diferentes públicos-alvo conforme as fases da vida, com jovens vulneráveis a influenciadores digitais que promovem estilos de vida e métodos de emagrecimento, enquanto os idosos tendem a confiar mais na televisão e em conteúdos manipulados nas redes sociais. A diretora do Viral Check destacou ainda que a inteligência artificial contribuiu para acelerar a propagação de informações falsas, com estudos recentes a indicar que cerca de 88% das respostas geradas pelas principais ferramentas de IA contêm desinformação sobre saúde.

Entre os temas mais afetados pela desinformação em Portugal, Sara Beatriz Monteiro identificou o emagrecimento, o cancro e a saúde mental. A desinformação nestas áreas pode levar a decisões prejudiciais, como o abandono de tratamentos convencionais em favor de remédios naturais sem eficácia comprovada, como a erva de São João, que pode interagir negativamente com medicações. A jornalista destacou que esta situação aumenta os riscos para a saúde, podendo resultar em diagnósticos tardios, tratamentos inadequados e redução das probabilidades de sobrevivência, como no caso do cancro.

De acordo com a diretora do Viral Check, a promoção de literacia científica entre a população, os profissionais de saúde e os meios de comunicação é fundamental para criar uma resposta proativa contra a desinformação. O projeto Viral Check dedica-se à clarificação dos conteúdos falsos em saúde, sobretudo os difundidos nas redes sociais, procurando fomentar uma atitude crítica que permita às pessoas tornarem-se embaixadores na luta contra a desinformação.

lusa/HN

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