Henrique Cyrne Carvalho: Bolsas de Doutoramento Nuno Grande são “um investimento de futuro” na medicina portuguesa

10/16/2025
Em entrevista exclusiva ao Healthnews, o Professor Henrique Cyrne Carvalho, Diretor do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) e Presidente do Júri das Bolsas de Doutoramento Nuno Grande (BDNG), revela os critérios de avaliação e a visão que orientará a edição de 2025, que pela primeira vez tem abrangência nacional e atribuirá três bolsas de 25 mil euros. As candidaturas decorrem de 16 de outubro de 2025 a 16 de janeiro de 2026. O regulamento e o formulário de candidatura estarão disponíveis, a partir do dia 16 de outubro, no website da Fundação Bial.

HealthNews (HN) – Como descreve o legado científico e académico do Professor Nuno Grande e de que forma esse legado orienta os critérios e a visão do júri na edição de 2025?

Professor Henrique Cyrne Carvalho (HCC) – Falar do legado científico e académico do Professor Nuno Grande é, antes de mais, um exercício de grande satisfação e reconhecimento.

Nuno Grande foi um dos fundadores do ICBAS e trouxe à nossa instituição a distinção pela excelência na medicina, combinada com uma visão pedagógica irreverente e verdadeiramente transdisciplinar. Foi um professor de referência, capaz de inspirar gerações de médicos, que deixou uma obra científica de enorme repercussão internacional.

Na cidade e no país, destacou-se pelo seu envolvimento em várias causas cívicas, políticas, sociais e culturais, sendo um exemplo de cidadania ativa e de compromisso com a comunidade. Esteve também ligado à génese da Fundação BIAL, como um dos três primeiros administradores.

É este legado, de médico insigne, professor empenhado, cidadão íntegro e inspirador, que orienta a atribuição das Bolsas de Doutoramento Nuno Grande (BDNG). Procuramos, através delas, perpetuar o seu dinamismo e o reconhecimento da excecionalidade da sua pessoa e da sua obra, e, ao mesmo tempo, inspirar novas gerações a prosseguir o caminho da investigação e do conhecimento em benefício da sociedade.

HN – A transição da gestão para a Fundação Bial e a abertura a nível nacional representam um novo ciclo. Que mudanças concretas espera ver na quantidade, qualidade e diversidade das candidaturas?

(HCC) – A partir desta edição, a BDNG ganha uma nova dimensão ao assumir abrangência nacional. Este é um passo muito importante na valorização e promoção da investigação e no apoio a médicos que pretendam desenvolver o seu trabalho científico.

A decisão de alargar a atribuição das Bolsas a todo o país e de estender a três projetos de investigação reflete a visão profundamente inclusiva e abrangente do Professor Nuno Grande. Esperamos, por isso, ampliar ainda mais a diversidade e quantidade das candidaturas, certos de que a qualidade científica e académica continuará a ser uma marca distintiva da BDNG.

Deixamos o nosso incentivo a todos a explorar novas fronteiras do conhecimento, que permitam abrir novos horizontes, pois será especialmente gratificante poder distinguir três projetos de mérito que coloquem o conhecimento científico mais avançado ao serviço da sociedade, com impacto real na melhoria da saúde humana.

HN – Quais são os principais critérios que o júri irá privilegiar na avaliação das propostas na área das Ciências Fundamentais em Saúde, e como ponderam o equilíbrio entre rigor metodológico, originalidade e potencial de aplicação nos projetos de investigação candidatos?

(HCC) – O Júri é constituído por prestigiados representantes das escolas médicas portuguesas. É um privilégio para mim presidir ao júri desde a primeira edição.

Temos recebido candidaturas de enorme qualidade, o que torna a escolha sempre desafiante. A avaliação assenta em critérios rigorosos, como o mérito científico do projeto, percurso académico e científico. Valorizamos particularmente o rigor metodológico, a originalidade e aplicabilidade, privilegiando projetos que possam traduzir-se em benefícios concretos para a prática médica e para a sociedade.


HN – A bolsa destina-se a médicos que colaboram no ensino e estão inscritos em programas doutorais em universidades portuguesas. Que evidências ou indicadores práticos de envolvimento no ensino e de compromisso com a carreira académica considera determinantes?

(HCC) – Como disse anteriormente, as candidaturas são avaliadas com base em critérios rigorosos, mas é no plano de trabalhos que recai a principal atenção do Júri, pois é nele que se reflete a ambição, a coerência e o potencial transformador do projeto.

Procuramos identificar propostas que demonstrem que a investigação é parte integrante e fundamental na formação de médicos, e que revelem um compromisso claro com a docência e a carreira académica. Valorizamos candidatos que participem ativamente no ensino, na orientação de estudantes, na integração em equipas de investigação, na produção de trabalhos científicos de cariz nacional e internacional, evidenciando um percurso académico sólido e uma verdadeira vocação para o ensino, pilares inseparáveis do progresso da medicina.

 HN – O reforço para três bolsas de 25 mil euros cada amplia o alcance, mas também a responsabilidade. Como é que o Júri encara esta nova abrangência?

(HCC) – Esta nova abrangência reflete o compromisso da Fundação Bial, da Família do Professor Nuno Grande e do ICBAS com a excelência e a promoção da investigação clínica. Mais do que um crescimento quantitativo, é um sinal claro da vontade de honrar o legado do Professor Nuno Grande e de confiança na investigação médica em Portugal.

Com três bolsas de 25 mil euros cada, queremos incentivar jovens médicos de todo o país a integrarem a investigação científica como parte essencial da sua formação. É um investimento de futuro, que contribui para elevar a qualidade dos cuidados de saúde e que proporciona aos investigadores o tempo, os recursos e o apoio necessários para desenvolverem ideias inovadoras.

HN – As bolsas atribuídas em 2022, 2023 e 2024 centraram-se nas áreas do lúpus, encefalites e hemato-oncologia. Que áreas ou abordagens emergentes nas Ciências Fundamentais em Saúde espera ver nas candidaturas da edição de 2025?

(HCC) – A BDNG tem-se destacado pela diversidade das áreas apoiadas, todas com uma forte aplicação clínica. Tem também mostrado, ao longo das edições, a importância da investigação na procura de soluções para pessoas que vivem com doenças raras e para as quais a investigação científica representa uma verdadeira esperança.

Na edição de 2025 esperamos, naturalmente, receber propostas que acompanhem a evolução da Medicina e respondam a desafios urgentes e emergentes, desde a saúde global e a aplicação da inteligência artificial na prática clínica, até à genética, medicina de precisão, terapias biológicas, entre tantas outras áreas de grande potencial.

HN – Que mensagem gostaria de deixar aos jovens médicos, nacionais ou estrangeiros, a lecionar em escolas médicas portuguesas, que ponderem candidatar-se entre 16 de outubro de 2025 e 16 de janeiro de 2026, sobre como tornar a sua candidatura competitiva e alinhada com o espírito da Bolsa de Doutoramento Nuno Grande?

(HCC) – Queremos distinguir as três melhores investigações nas áreas das Ciências Fundamentais da Saúde do país, apoiando o desenvolvimento de conhecimento avançado e o seu potencial de translação. Desafiamos todos os jovens médicos que lecionam em escolas médicas portuguesas e frequentam programas doutorais a submeterem candidaturas originais, de elevado rigor científico e relevância prática.

O médico-investigador desempenha um papel decisivo na formação de novas gerações, promove o pensamento crítico, o rigor metodológico e a curiosidade, valores que fortalecem a ligação entre ensino, investigação e prática clínica e que são essenciais para o avanço efetivo da medicina em benefício dos doentes e da sociedade.

A BDNG é um prémio singular, que valoriza o mérito e que dá notoriedade aos docentes que realizam trabalho de investigação de excelência, quer pelo reconhecimento científico, quer pela oportunidade de investigar na sua área de eleição.

HN/MMM

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