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O número de queixas por suspeita de negligência médica disparou no Portal da Queixa. Entre 1 de janeiro e 14 de outubro de 2025, a plataforma contabilizou 294 denúncias deste género, um valor que representa um acréscimo de 26% face aos 233 registos no idêntico período de 2024.
Os relatos dos utentes descrevem, com frequência, cenários de diagnósticos que chegaram demasiado tarde ou simplesmente falharam, sintomas que não foram levados a sério e atrasos considerados críticos no início de tratamentos. A gravidade de algumas situações sobressai, como a de uma idosa que, após uma reação adversa a um medicamento, desenvolveu falência múltipla de órgãos e acabou por morrer. Noutro episódio, um utente idoso foi encontrado sem condições de higiene, sem medicação e sem qualquer acompanhamento, depois de vários dias incomunicável. Há ainda o caso de uma doente que, após uma queda, permaneceu mais de dez horas numa maca sem que lhe fossem feitos exames ou sequer uma avaliação clínica.
O Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca, na Amadora-Sintra, surge repetidamente no centro das críticas. Dezenas de reclamações apontam para situações de risco clínico e demoras em contextos de emergência. Uma das queixosas, com um diagnóstico de apendicite aguda, aguardou horas pela intervenção cirúrgica, o que levou a que a infeção evoluísse para peritonite. Na sua narrativa, a mesma mulher vinca que o seu marido morreu no mesmo hospital com um problema cardíaco, depois de lhe ter sido atribuída uma pulseira verde na triagem. Alega que a falta de assistência médica na urgência ditou o desfecho.
Noutro testemunho, uma família descreve como uma idosa passou a noite quase inteira sem ser observada, acusando a inexistência de profissionais no turno da noite e o abandono de vários doentes à sua sorte na sala de espera.
No panorama mais lato, o setor da Saúde no seu conjunto registou 4.384 reclamações no portal durante o mesmo intervalo temporal, um crescimento de 20% em comparação com as 3.649 do ano anterior. As situações enquadradas como alegada negligência representam agora 6,71% do total de queixas, um ligeiro aumento face aos 6,39% de 2024. A maioria das denúncias parte de mulheres (65,12%), sendo a faixa etária dos 35 aos 44 anos a mais participativa.
Pedro Lourenço, fundador do Portal da Queixa, não esconde preocupação com a tendência. “O aumento do número de queixas e a escalada nos relatos de alegada negligência médica refletem uma quebra crescente na confiança dos cidadãos nos serviços de saúde. A dimensão e gravidade dos testemunhos exigem o reforço dos mecanismos de avaliação clínica, da transparência e da segurança dos utentes”, afirmou. Lourenço garantiu que a plataforma “continuará a monitorizar estes indicadores e a dar voz aos consumidores, promovendo a responsabilização dos serviços e a melhoria no acesso aos cuidados de saúde.”
R/HN



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