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O governo sul-africano recebeu com alívio o anúncio de um plano de financiamento transitório norte-americano no valor de 99 milhões de euros, destinado a manter programas de tratamento e prevenção do VIH no país até março. A medida, descrita pela ministra da Presidência, Khumbudzo Ntshavheni, como um corretivo a uma rutura abrupta, tenta estabilizar um setor que enfrentou meses de incerteza após a suspensão de fundos por Washington.
O Plano de Emergência do Presidente dos EUA para o Alívio da SIDA (PEPFAR), uma peça central no combate global à doença, viu o seu fluxo financeiro para a África do Sul interrompido no início do ano por ordem executiva de Donald Trump. A decisão, que surpreendeu parceiros em Joanesburgo, levou ao congelamento da maior parte dos cerca de 343 milhões de euros anuais que os EUA canalizavam para o esforço local. O resultado foi um abalo severo: mais de 8.000 profissionais de saúde perderam o emprego e uma dúzia de clínicas especializadas, geridas por organizações não-governamentais, fecharam portas.
Ntshavheni, em tom que mesurava o pragmatismo com um ligeiro optimismo, afirmou que o Governo “acolhe favoravelmente” esta solução provisória, designada por PEPFAR Bridge Plan. “Um dos principais problemas quando o financiamento foi suspenso foi o curto prazo dado aos países para ajustarem os seus orçamentos”, explicou. “O novo plano procura corrigir essa situação”. A ministra não escondeu que vê na decisão um sinal de que, apesar de desavenças, os dois países conseguem dialogar e encontrar “soluções amistosas”.
Esta narrativa de normalização, contudo, esconde um pano de fundo de relações notavelmente tensas. Nos últimos meses, a administração Trump acusou o executivo de maioria negra da África do Sul de promover um “genocídio” contra a minoria branca afrikaner, uma retórica inflamada que levou até à expulsão do embaixador sul-africano em Washington, Ebrahim Rasool. As tarifas comerciais impostas sobre exportações sul-africanas e as críticas ferozes à posição de Pretória no conflito Israel-Hamas aprofundaram a fossa diplomática.
Enquanto isso, no terreno, o ministro da Saúde Aaron Motsoaledi revelou que uma delegação norte-americana sinalizou uma intenção mais vasta de “reformular o PEPFAR”. A estratégia, segundo Motsoaledi, poderá conceder a alguns países períodos de transição de até cinco anos antes do cessar total do programa, um indício de que a turbulência atual pode ser apenas um prelúdio de uma reconfiguração mais profunda da ajuda global à saúde. Para já, a ponte de 99 milhões de euros serve como um tampão, impedindo que milhares de doentes fiquem sem tratamento imediato num país que continua a ser o epicentro global da epidemia de VIH.
NR/HN/Lusa



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