Ponte Financeira dos EUA Garante Combate ao VIH na África do Sul

16 de Outubro 2025

A África do Sul saúda o plano transitório de 99 milhões de euros dos EUA para financiar programas de VIH até março. A ministra Ntshavheni vê o acordo como um sinal de relações bilaterais positivas, após meses de tensão que levaram a despedimentos e ao encerramento de clínicas.

O governo sul-africano recebeu com alívio o anúncio de um plano de financiamento transitório norte-americano no valor de 99 milhões de euros, destinado a manter programas de tratamento e prevenção do VIH no país até março. A medida, descrita pela ministra da Presidência, Khumbudzo Ntshavheni, como um corretivo a uma rutura abrupta, tenta estabilizar um setor que enfrentou meses de incerteza após a suspensão de fundos por Washington.

O Plano de Emergência do Presidente dos EUA para o Alívio da SIDA (PEPFAR), uma peça central no combate global à doença, viu o seu fluxo financeiro para a África do Sul interrompido no início do ano por ordem executiva de Donald Trump. A decisão, que surpreendeu parceiros em Joanesburgo, levou ao congelamento da maior parte dos cerca de 343 milhões de euros anuais que os EUA canalizavam para o esforço local. O resultado foi um abalo severo: mais de 8.000 profissionais de saúde perderam o emprego e uma dúzia de clínicas especializadas, geridas por organizações não-governamentais, fecharam portas.

Ntshavheni, em tom que mesurava o pragmatismo com um ligeiro optimismo, afirmou que o Governo “acolhe favoravelmente” esta solução provisória, designada por PEPFAR Bridge Plan. “Um dos principais problemas quando o financiamento foi suspenso foi o curto prazo dado aos países para ajustarem os seus orçamentos”, explicou. “O novo plano procura corrigir essa situação”. A ministra não escondeu que vê na decisão um sinal de que, apesar de desavenças, os dois países conseguem dialogar e encontrar “soluções amistosas”.

Esta narrativa de normalização, contudo, esconde um pano de fundo de relações notavelmente tensas. Nos últimos meses, a administração Trump acusou o executivo de maioria negra da África do Sul de promover um “genocídio” contra a minoria branca afrikaner, uma retórica inflamada que levou até à expulsão do embaixador sul-africano em Washington, Ebrahim Rasool. As tarifas comerciais impostas sobre exportações sul-africanas e as críticas ferozes à posição de Pretória no conflito Israel-Hamas aprofundaram a fossa diplomática.

Enquanto isso, no terreno, o ministro da Saúde Aaron Motsoaledi revelou que uma delegação norte-americana sinalizou uma intenção mais vasta de “reformular o PEPFAR”. A estratégia, segundo Motsoaledi, poderá conceder a alguns países períodos de transição de até cinco anos antes do cessar total do programa, um indício de que a turbulência atual pode ser apenas um prelúdio de uma reconfiguração mais profunda da ajuda global à saúde. Para já, a ponte de 99 milhões de euros serve como um tampão, impedindo que milhares de doentes fiquem sem tratamento imediato num país que continua a ser o epicentro global da epidemia de VIH.

NR/HN/Lusa

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Bolsas Mais Valor em Saúde distinguem quatro projetos inovadores no SNS

Gilead Sciences, em parceria com a Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), a Exigo e a Vision for Value, anunciou os vencedores da 4ª edição das Bolsas Mais Valor em Saúde – Vidas que Valem, iniciativa que distingue projetos inovadores no Serviço Nacional de Saúde (SNS) focados na metodologia Value-Based Healthcare (VBHC). 

Dia Mundial da DPOC: Uma Doença Prevenível que Ainda Mata

No dia 19 de novembro assinala-se o Dia Mundial da Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC), uma condição respiratória crónica que, apesar de ser prevenível e tratável, continua a ser uma das principais causas de morbilidade e mortalidade a nível global.

Patrícia Costa Reis: “Precisamos de diagnosticar mais cedo a XLH”

Numa entrevista exclusiva ao HealthNews, Patrícia Costa Reis, gastroenterologista pediátrica, investigadora e professora na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa – Hospital de Santa Maria -, esclarece os mecanismos e impactos da XLH (hipofosfatemia ligada ao cromossoma X). Esta doença genética rara provoca perdas de fósforo, originando raquitismo, deformidades ósseas, dor crónica e fadiga. A especialista destaca a importância do diagnóstico precoce, o papel crucial das equipas multidisciplinares e a mudança de paradigma no tratamento com a introdução de terapêuticas dirigidas.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights