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A solidão e a carência de relações sociais estão diretamente associadas a mais de 870 mil mortes prematuras em cada ano em todo o mundo, constituindo um fator de risco acrescido para a saúde física e mental. O alerta foi hoje divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, que analisou as ligações sociais em mais de duas dezenas de países.
O estudo, que inclui Portugal, traça uma linha clara entre o isolamento relacional e a mortalidade precoce. A sensação de solidão aparece ainda correlacionada com um desempenho profissional mais fraco, maior propensão para o desemprego e uma elevada probabilidade de abandono escolar precoce. Pelo contrário, as interações sociais frequentes surgem ligadas a melhores indicadores de saúde, níveis superiores de satisfação e criatividade no trabalho e melhores resultados académicos.
Apesar de a generalidade das ligações sociais se apresentar robusta nos países analisados – mais de dois terços dos inquiridos contactam diariamente com amigos ou familiares e 90% afirmam ter alguém em quem confiar em alturas de necessidade –, os números não escondem fragilidades. Uma em cada dez pessoas sente-se sem apoio, 8% dos inquiridos em 22 países europeus da OCDE declaram não ter amigos próximos e 6% em 23 países sentiram-se sós na maior parte ou em todo o tempo nas últimas quatro semanas.
A paisagem social, contudo, está a mudar de forma subtil mas consistente. Em 21 países europeus membros da organização, as interações presenciais diárias com amigos e familiares registaram um declínio continuado entre 2006, 2015 e 2022, um movimento que contrasta com o aumento do contacto remoto.
Um dos aspetos mais salientes do relatório é a identificação de homens e jovens como novos grupos de risco. Os homens, que tradicionalmente reportavam níveis de solidão mais baixos e uma qualidade relacional superior à das mulheres, sofreram uma deterioração mais acentuada das suas redes de contacto entre 2018 e 2022. Já os jovens mostraram um crescimento da insatisfação com os relacionamentos, um agravamento do apoio social percebido e um encontro menos frequente com os seus amigos de forma presencial.
O documento sublinha que o desemprego e os baixos rendimentos caminham frequentemente a par com laços sociais frágeis, uma realidade que também atinge com particular intensidade os idosos e quem vive sozinho. Os desempregados e os indivíduos com menos recursos económicos têm aproximadamente o dobro da probabilidade de reportarem sentimentos de solidão. Quem vive sozinho tem 1,5 vezes mais hipóteses de se mostrar insatisfeito com as suas relações. Cerca de 11% das pessoas idosas referem nunca encontrar amigos pessoalmente num ano normal, uma percentagem que mais do que duplica a taxa observada na população em geral.
A OCDE enfatiza que a quantidade e a qualidade dos contatos sociais são determinantes não apenas para o bem-estar individual, mas também para a contenção de custos sociais e económicos evitáveis. A atenção política ao fenómeno, já visível antes da pandemia de covid-19, intensificou-se nos últimos anos. Alemanha, Dinamarca, Finlândia, Países Baixos, Suécia e Espanha são alguns dos países que já implementaram estratégias nacionais especificamente desenhadas para combater a solidão.
NR/HN/Lusa



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