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Num avanço que esclarece os mecanismos fundamentais da vida a nível microscópico, uma equipa de cientistas da Universidade Koç desvendou como é mantida a integridade da antena que a maioria das nossas células usa para comunicar com o exterior. O estudo, liderado pela Prof.ª Doutora Elif Nur Fırat Karalar, foca-se nos cílios primários, projeções minúsculas que atuam como sensores celulares.
A investigação, publicada na Communications Biology, demonstra que um grupo específico de enzimas, conhecidas como quinases DYRK, funcionam como reguladores mestres destas estruturas. São estas enzimas que garantem que os cílios primários mantêm um comprimento adequado, uma forma correta e a necessária estabilidade. “Sem este controlo, o sistema de sinalização da célula fica profundamente comprometido”, contextualiza a investigadora.
Quando a função das DYRK é perturbada, os cílios podem tornar-se anormalmente longos, apresentar deformações ou mesmo mostrar-se instáveis. Esta disfunção impede a célula de interpretar corretamente os sinais do seu ambiente, um mecanismo subjacente a um espectro de patologias humanas. A descoberta não é, portanto, meramente académica. Ela oferece uma nova lupa para observar um leque de condições, desde certos transtornos do desenvolvimento a doenças renais e cegueiras hereditárias, onde se suspeita de mau funcionamento ciliar.
O caminho percorrido pela equipa de Karalar até este achado foi longo. A investigadora, que se doutorou em Berkeley e aprofundou os seus conhecimentos em centros e cílios durante o pós-doutoramento em Stanford, estabeleceu o seu próprio laboratório na Universidade Koç em 2014. O seu grupo tem-se dedicado a desvendar os intricados processos do citoesqueleto celular, um trabalho que tem merecido reconhecimento internacional e financiamento de entidades de prestígio como o Conselho Europeu de Investigação.
O artigo científico, disponível online, detalha a metodologia experimental e os resultados que sustentam esta conclusão, traçando uma ligação molecular directa entre a regulação enzimática e a saúde de uma estrutura celular até há pouco tempo envolta em mistério. O trabalho sugere que as quinases DYRK poderão, no futuro, constituir-se como alvos para intervenções terapêuticas em doenças ciliares, uma possibilidade que carece ainda de muitos anos de investigação.
Link para o estudo: https://www.nature.com/articles/s42003-025-08373-5
NR/HN/AlphaGalileo



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