Ana Rita Nunes e Filipa Pimenta (Ispa/ William James Center for Research).

Menopausa e o Contexto Laboral: Dia Mundial da Menopausa

10/19/2025

A menopausa é definida como a última menstruação após um ano de amenorreia (ausência de menstruação). É frequentemente associada a sintomas como dores articulares, alterações de humor, do sono e da concentração, aumento do cansaço e peso, diminuição da líbido, incontinência urinária, sendo os afrontamentos e suores noturnos, os mais prevalentes.

A menopausa natural ocorre entre os 45 e os 55 anos, uma fase em que a maioria das mulheres permanece profissionalmente ativa. No entanto, a gestão dos sintomas durante o horário laboral continua a ser um desafio. Kopenhager e Guidozzi (2015) identificaram que cerca de 50% das mulheres refere que o seu desempenho laboral é negativamente afetado, pelos sintomas de menopausa. No que respeita à realidade portuguesa, no ano de 2024, a percentagem de população ativa de mulheres com idades entre os 45-54 anos era de 83,1% e entre 55-64 anos de 63,9%. Apesar destes dados, não existem estudos que retratem a realidade das mulheres em menopausa, no contexto laboral, embora já existam recomendações de intervenção nesta área (Ordem dos Psicólogos Portugueses, 2024).

Há estratégias que podem ajudar na gestão de sintomas de menopausa no contexto laboral, como usar roupas em camadas, ter uma muda de roupa disponível, o uso de ventoinhas portáteis, o acesso facilitado a água e a casas de banho (Hardy et al., 2018; Hardy et al., 2020). Fora do contexto de trabalho, ajuda igualmente a prática de atividade física regular, realização de uma alimentação equilibrada e a valorização dos períodos de descanso (Kopenhager et al., 2015).

Apesar das mudanças associadas à menopausa serem amplamente estudadas, continuam a ser pouco debatidas, sobretudo no local de trabalho. As investigadoras Ana Rita Nunes e Filipa Pimenta (Ispa/ William James Center for Research), em conjunto com Mafalda Leitão da Universidade Europeia e Myra Hunter do King’s College, destacam a importância de as empresas investirem mais nesta área. Filipa Pimenta refere num estudo anterior onde já encontraram a associação entre saúde percebida e produtividade, “adultos que avaliam melhor o seu estado de saúde são precisamente aqueles que produzem mais; logo, é necessário um investimento na melhoria da saúde, no contexto do trabalho, especialmente com este grupo que são as mulheres de meia-idade profissionalmente ativas e com sintomas de menopausa”. Adicionalmente, Ana Rita Nunes salienta que “um Relatório Governamental do Reino Unido (2017) estimou que o absentismo laboral devido a sintomas graves de menopausa, pode ter custado cerca de 8 milhões de euros aos contribuintes.”

Assim, é essencial promover políticas organizacionais ajustadas às necessidades de grupos particulares e, desejavelmente, promover, dentro das organizações, um bem-estar adequado a necessidades particulares – como é o caso da menopausa – e disseminar mais informação e estratégias de gestão de sintomas ainda pouco conhecidos junto das equipas.

 

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