Modelos Linguísticos Interpretam Batimentos Cardíacos em Tempo Real

19 de Outubro 2025

Investigadores da Universidade de Bochum desenvolveram uma interface que permite a um modelo linguístico processar dados cardíacos em tempo real. O sistema adapta respostas com base no esforço cognitivo, abrindo portas para aplicações médicas

Num laboratório da Ruhr-Universitaet-Bochum, na Alemanha, um modelo de linguagem artificial aprendeu a escutar o ritmo do coração. Morris Gellisch, agora na Universidade de Zurique, e Boris Burr conceberam uma interface técnica que transmite dados fisiológicos em tempo real para o GPT-4, permitindo à inteligência artificial interpretar e reagir às variações da frequência cardíaca. O estudo, publicado a 26 de setembro de 2025 na Frontiers in Digital Health, sugere que as máquinas podem, pela primeira vez, incorporar sinais corporais subtis no processo de interação.

A experiência apoiou-se num dispositivo comum de medição da variabilidade cardíaca, preso ao peito. Os dados, depois de decodificados e filtrados, alimentaram diretamente o grande modelo de linguagem. Este foi capaz de organizar a informação numa tabela, indicando valores médios, mínimos e máximos, sem recorrer a software externo. “A avaliação e a visualização ocorrem diretamente no ambiente LLM”, confirmou Boris Burr. A IA gerou ainda gráficos que espelhavam a atividade cardíaca registada.

Mas a verdadeira novidade residiu na interação dinâmica. Num teste de stress cognitivo, o sistema detetou alterações no padrão dos batimentos perante tarefas simples e complexas, ajustando a sua saída em conformidade. “O nosso experimento não é um estudo psicofisiológico validado, mas um cenário de prova de conceito”, sublinhou Gellisch. O objetivo passava por demonstrar que o modelo pode reagir a parâmetros corporais quando estes lhe chegam através de uma interface adequada.

A equipa acredita que esta ligação entre fisiologia e IA traz um valor acrescentado palpável. Modelos linguísticos passam a poder considerar, para lá do texto, indicadores em tempo real do estado autónomo de um indivíduo. Isso poderá conduzir a interações mais adaptadas e sensíveis ao contexto, seja na educação, na tomada de decisão ou na saúde. “A interface é interessante para cenários de educação e investigação, mas também para aplicações médicas e de cuidados, como identificar stresse, exaustão ou desregulação emocional em tempo real”, avançou Gellisch.

O projeto contou com a colaboração de Thorsten Schäfer, decano da Faculdade de Medicina, e de Eckart Förster, diretor da Cátedra de Neuroanatomia e Investigação Molecular Cerebral da Ruhr University Bochum.

NR/HN/AlphaGalileo

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Anabela Oliveira: “Doença de Gaucher pode ter um amplo espetro de apresentações”

Num exclusivo ao HealthNews, a Dra. Anabela Oliveira, especialista em Medicina Interna do Hospital de Santa Maria, esclarece os contornos da doença de Gaucher. Uma patologia rara e hereditária, caracterizada pela deficiência de uma enzima, que provoca a acumulação de gorduras no organismo. Com um amplo espetro de manifestações e um diagnóstico por vezes tardio, a médica detalha os sinais de alerta, o acompanhamento multidisciplinar e os avanços terapêuticos que têm melhorado a qualidade de vida dos doentes

Fundação para a Saúde lança Manifesto contra centralização do acesso à doença aguda através da Linha SNS24

A Fundação para a Saúde divulgou um Manifesto intitulado “Sobre os serviços e cuidados de saúde a que temos direito”, que alerta para a crescente centralização da gestão do acesso aos cuidados de saúde em caso de doença aguda através da Linha SNS24, fenómeno que, segundo o documento, desvirtua o papel tradicional dos centros de saúde e do conceito de proximidade no Serviço Nacional de Saúde (SNS) português. 

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights