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A lista de espera para cirurgia nos Açores não dá tréguas e voltou a crescer em setembro, acomodando mais de 13 mil pessoas. Os números oficiais da Direção Regional da Saúde, agora conhecidos, desenham um panorama que se agrava de forma persistente.
De acordo com o boletim mensal da Unidade Central de Gestão de Inscritos para Cirurgia, consultado pela Lusa, estavam 13.187 utentes inscritos na lista de espera no final do mês passado. Um ligeiro acréscimo de 1,1% face a agosto, mas que, quando colocado na balança anual, se transforma num salto significativo de 13%. São mais 1.519 pessoas à espera de uma solução cirúrgica do que em setembro do ano anterior. Esta trajectória ascendente arrasta-se, aliás, desde maio de 2023.
O peso desta realidade distribui-se de forma desigual pelos três hospitais da região. A unidade de Ponta Delgada, o Hospital do Divino Espírito Santo (HDES), concentra sozinha a fatia mais avultada do problema: 8.600 inscritos. O mesmo estabelecimento, que ainda sente os efeitos do incêndio de maio de 2024, registou a pior evolução homóloga, com a sua lista a inchar em 1.376 utentes, um aumento de 19%. O Hospital da Horta viu a sua lista crescer 8,4% para 1.439 pessoas, enquanto o Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira (HSEIT) contabilizava 3.148 doentes, um ligeiro acréscimo de 1%.
É preciso notar que um mesmo utente pode estar inscrito para mais do que uma intervenção, o que faz com que o número total de propostas cirúrgicas em espera – 14.665 em setembro – seja ainda mais expressivo.
Paradoxalmente, ou talvez como reflexo do esforço para conter a hemorragia, a produção cirúrgica conheceu um impulso no mesmo período. Foram realizadas 676 operações, um número substancialmente superior às de agosto e também ao verificado em setembro de 2024. Mais de metade desta atividade (352 cirurgias) concentrou-se precisamente no HDES, que viu a sua produção disparar 54,4% em termos homólogos. A Terceira, por seu turno, realizou 203 operações, menos 11,7% que no ano anterior, e a Horta fez 121, um ligeiro crescimento de 4,3%. A Secretaria Regional da Saúde e Segurança Social ressalva, contudo, que estes dados refletem apenas a produção adicional do programa CIRURGE, não entrando na conta as cirurgias do período normal de funcionamento.
Este aumento de atividade, porém, não foi suficiente para travar o alongamento do tempo de espera. Um doente açoriano aguardava, em média, 474 dias por uma cirurgia em setembro. São mais 37 dias do que há um ano atrás, um valor que deixa longe o Tempo Máximo de Resposta Garantida de 270 dias para casos de prioridade normal. Em Ponta Delgada, a espera média chegou aos 511 dias. Apesar de tudo, e num dado que poderá sugerir alguma eficácia nas medidas corretivas, 53% das cirurgias realizadas cumpriram o TMRG, uma ligeira melhoria face a 2024.
A pressão sobre o sistema mantém-se, com a entrada de 988 novas propostas cirúrgicas em setembro. Os cancelamentos, ainda que tenham recuado face a agosto, mantiveram-se num patamar elevado, com 166 ocorrências.
Acesso ao documento da Direção Regional da Saúde
NR/HN/Lusa



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