Gripe e temperaturas extremas causaram 1.609 mortes em excesso no final de 2024 e início de 2025

22 de Outubro 2025

Portugal registou 1.609 óbitos em excesso entre dezembro de 2024 e janeiro de 2025, período coincidente com a epidemia de gripe e temperaturas extremas, afetando sobretudo mulheres e pessoas com mais de 85 anos, segundo um relatório hoje divulgado.

O Relatório Anual do Programa Nacional de Vigilância da Gripe e Outros Vírus Respiratórios (Pnvg) relativo à época 2024/2025, do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa), revela que o excesso de mortalidade foi registado entre a semana de 23 a 29 dezembro (52) e a semana de 20 de janeiro a 26 de janeiro de 2025 (04).

“Este período foi coincidente com o período epidémico de gripe e com um período de temperaturas extremas”, refere o relatório apresentado na 11.ª Reunião da Vigilância Epidemiológica da Gripe e de Outros Vírus Respiratórios em Portugal.

Segundo o relatório, “também foi observado em outros países europeus um excesso de mortalidade por todas as causas, possivelmente atribuível à epidemia de gripe e às temperaturas extremas”.

O documento descreve a caracterização clínica e laboratorial da atividade gripal e de vírus respiratórios detetados na época 2024/2025, que se caracterizou por ser “um período epidémico longo”, com maior atividade gripal entre os meses de dezembro de 2024 e março de 2025, com o maior número de casos detetado entre 6 e 26 de janeiro.

Nas Redes Sentinela, a maioria dos casos reportados tinham mais de 15 anos e a percentagem mais elevada de casos de gripe foi verificada no grupo etário dos 5 aos 14 anos, decrescendo com a idade até aos 80 anos.

“Foi observado um aumento da proporção de casos de covid-19 com a idade, até ao grupo etário dos 65 aos 79 anos, em que a proporção de casos de covid-19 foi a mais elevada (3,6%)”, sublinha.

“A caracterização genética dos vírus SARS-CoV-2, detetados nas Redes Sentinela do Pnvg, mostrou a diversidade e a circulação das linhagens do SARS-CoV-2 em Portugal”, sendo que a maioria dos vírus identificada pertencia à linhagem BA.2.86, da variante Ómicron.

A Rede Portuguesa de Laboratórios para o Diagnóstico da Gripe e Outros Vírus Respiratórios notificou 138.253 casos de infeção respiratória, para os quais foi realizado o diagnóstico laboratorial.

O vírus da gripe foi detetado em 20.140 destes casos. Em 62,3% (12.543) dos casos foi detetado o vírus ‘influenza’.

Os vírus respiratórios foram detetados em maior proporção de casos nas crianças com menos de 15 anos e nos adultos com 65 ou mais anos.

Os hospitais reportaram 125 casos de gripe que necessitaram de internamento em Unidades de Cuidados Intensivos (UCI). A maioria dos doentes internados tinha 55 ou mais anos e eram homens.

Verificou-se que 86,4% dos doentes tinham doença crónica subjacente ou fatores de risco, sendo a doença cardiovascular a mais frequentemente reportada (33,6%), seguida da obesidade (25,8%) e da diabetes (23,2%).

Entre os doentes com informação disponível sobre o estado vacinal, 104 (31,7%) estavam vacinados contra a gripe sazonal e, considerando os que tinham recomendação para a vacinação, 116 (34%) estavam imunizados.

De acordo com o relatório, “a época 2024/2025 em UCI apresentou um perfil globalmente consistente com as épocas anteriores pré-covid, sugerindo o retorno às epidemias de gripe sazonal anteriores à pandemia”.

O Insa reforça a importância da vigilância do perfil de gravidade da gripe, bem como da vacinação contra a gripe sazonal.

Os dados indicam que houve “circulação alternada dos vírus do tipo A e B, tendo o vírus da gripe tipo B/Victoria predominado entre novembro a dezembro e o vírus da gripe do tipo A entre janeiro e maio.

“Os vírus do subtipo A(H3N2) apresentaram características antigénicas e genéticas distintas da estirpe vacinal (muito importante para a época que se inicia)”, salienta o relatório.

O Insa sublinha ainda que “o vírus da gripe A(H5N1) constitui hoje uma ameaça para a saúde pública”.

lusa/HN

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