Epidemia de cólera na RDCongo é uma das piores na última década

24 de Outubro 2025

 Os Médicos Sem Fronteiras (MSF) alertaram hoje para a "grave epidemia" de cólera na República Democrática do Congo (RDCongo), uma das piores neste país na última década, com mais de 58.000 casos suspeitos sinalizados em nove meses.

Os MSF assinalaram que 20 das 26 províncias do país foram afetadas, até à data, pela doença, que já causou mais de 1.700 mortes, o que representa uma taxa de mortalidade superior a 3%.

Para a Organização Não-Governamental (ONG), a situação nesta nação vizinha de Angola está a piorar e a doença está a propagar-se para novas zonas, incluindo províncias que anteriormente não eram endémicas à cólera.

Por outro lado, a ONG referiu ainda que esta situação pode piorar com o início da estação das chuvas, pois o risco de transmissão e contágio será maior, nomeadamente por causa das inundações e os sistemas inadequados de saneamento e abastecimento de água, o que contribui para “alimentar epidemias generalizadas como a cólera”.

No entanto, os conflitos regionais têm também impacto no aumento dos casos de cólera devido às consequentes deslocações de civis, muitas vezes em condições insalubres. Estes episódios de violência dificultam também as deslocações de profissionais de saúde, devido à insegurança e destruição das infraestruturas, como as estradas.

“Preocupa-nos muito a rápida propagação da epidemia por todo o país este ano, sobretudo durante a estação das chuvas”, disse Jean-Gilbert Ndong, médico e coordenador médico dos MSF na RDCongo.

Neste sentido, a ONG detalhou que, desde janeiro, realizou 16 intervenções de emergência em apoio ao Ministério da Saúde congolês, tratando mais de 35.800 pacientes e vacinando mais de 22.000 pessoas contra a doença.

A organização assinalou, no entanto, que a resposta enfrenta obstáculos, como o financiamento insuficiente do Governo congolês, a presença limitada de agências humanitárias e a falta de coordenação no mecanismo de resposta de emergência.

A isto somam-se a fragilidade dos sistemas de vigilância e identificação de casos – até porque o país se encontra em conflitos nas regiões orientais – a falta de pessoal e de materiais médicos e a distribuição limitada de vacinas, que comprometem ainda mais a implementação de uma resposta rápida, eficaz e sustentável.

Dados divulgados em 02 de outubro pela agência de saúde pública da União Africana indicaram que África já superou este ano o número de casos de cólera registado em todo o ano de 2024, sendo Angola uma das nações mais afetadas.

A cólera é uma doença diarreica aguda, causada pela ingestão de água ou alimentos contaminados, associada a más condições de saneamento e higiene, e pode ser fatal se não for tratada rapidamente com hidratação adequada.

lusa/HN

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