Estudo: Pandemia Trouxe Declínio nos Níveis de Vitamina D

26 de Outubro 2025

Investigação da Universidade de Munique com base em 300.000 análises revela que níveis de vitamina D caíram na Baviera durante a pandemia. Mulheres idosas e residentes urbanos foram os mais afetados, sugerindo impacto dos confinamentos na exposição solar.

Um estudo levado a cabo pela Universidade Ludwig-Maximilians de Munique (LMU) detetou um declínio acentuado nos níveis de vitamina D na população da Baviera durante os dois anos de pandemia de Covid-19. A investigação, que analisou dados anonimizados de quase 300.000 indivíduos, aponta para as restrições sociais como uma provável causa, com impactos mais severos em mulheres idosas, adultos jovens e residentes em meios urbanos.

A equipa, liderada pela epidemiologista Eva Grill, comparou valores laboratoriais de um período pré-pandémico, entre março de 2018 e fevereiro de 2020, com os do biénio pandémico, de março de 2020 a fevereiro de 2022. Os resultados, publicados na Nature Communications, revelam que a média de 25-hidroxi vitamina D no soro sanguíneo baixou de 26,7 µg/l para 26,0 µg/l. Paralelamente, a taxa de deficiência da vitamina, definida por valores inferiores a 20 µg/l, escalou de 31,2% para 35,2% da população estudada.

“Uma explicação plausível reside nos confinamentos, no teletrabalho e na alteração dos hábitos de lazer, que reduziram a exposição solar de uma franja significativa da população”, avançou Eva Grill. A equipa usou três metodologias estatísticas distintas para validar as conclusões, todas as quais convergiram nos mesmos resultados. As disparidades mantiveram-se após ajustes que tiveram em conta variáveis como a idade, o género ou a estação do ano.

A análise desagregada por grupos populacionais trouxe nuances relevantes. As mulheres com mais de 60 anos sofreram um dos declínios mais pronunciados. Já entre os adultos jovens dos 18 aos 39 anos, a taxa de deficiência subiu de 34,6% para 37,8%. A vitamina D, crucial para a saúde óssea e com uma função imunomoduladora reconhecida, assume especial importância nestas faixas etárias. A sua carência está associada a um risco acrescido de infeções, doenças autoimunes e fraturas.

Curiosamente, o estudo identificou um fosso entre o campo e a cidade. As regiões urbanas apresentaram taxas de deficiência consistentemente superiores às das zonas rurais. “As condições de vida citadinas – com menos luz solar devido à densidade edificada, espaços verdes limitados e maior poluição atmosférica – comprometem adicionalmente a síntese de vitamina D”, observou Grill.

Outro dado que sobressaiu prende-se com as diferenças de género. Apesar de as mulheres reportarem, em média, uma maior utilização de suplementos, foram elas que registaram quedas mais acentuadas nos níveis da vitamina durante a pandemia. Para a investigadora, este facto pode funcionar como “um indicador de que fatores sociais e psicológicos, como cargas adicionais, stresse e acesso limitado a cuidados de saúde, terão pesado mais na vida das mulheres”.

Para além do conteúdo substantivo, o trabalho evidencia o valor dos dados de rotina da prática clínica como um instrumento de vigilância em saúde pública. “Estes dados permitem-nos detetar rapidamente tendências, como a queda de níveis de nutrientes ou o aumento de fatores de risco, sem termos de aguardar por inquéritos morosos”, sustentou Grill. A integração de informação laboratorial, de faturação e clínica pode, na sua perspetiva, abrir caminho a uma política de prevenção mais ágil e orientada por dados.

Referências Bibliográficas:
Ludwig-Maximilians-Universitaet Muenchen (LMU). (21/10/2025). *Covid-19: vitamin D levels fell during pandemic*. https://www.lmu.de/en/newsroom/news-overview/news/covid-19-vitamin-d-levels-fell-during-pandemic.html

NR/HN/ALphaGalileo

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