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Uma mutação genética conhecida pelo seu papel em doenças de pele como a psoríase mostrou ter uma influência directa e inesperada no intestino. A descoberta, feita por uma equipa internacional, revela que a variante no gene CARD14, para além de activar respostas imunes na pele, reduz a motilidade intestinal e aumenta a vulnerabilidade a infeções bacterianas. Este novo elo entre genética, imunidade e função gastrointestinal pode reorientar a forma como são acompanhados os doentes com psoríase.
Investigadores do VIB-UGent, em colaboração com a Universidade de Barcelona e a University College London, publicaram na revista EMBO Molecular Medicine um estudo que aprofunda as consequências sistémicas da mutação. Utilizando um modelo animal que expressava a variante humana do CARD14 nas células epiteliais do intestino, a equipa liderada pela Dr.ª Inna Afonina e pelo Prof. Rudi Beyaert observou que os ratos desenvolviam um trânsito intestinal mais lento, sem que houvesse danos visíveis no revestimento do intestino ou no sistema nervoso entérico.
A alteração na motilidade não foi o único efeito registado. A mutação provocou uma mudança no perfil de expressão genética dessas células, com uma queda acentuada na produção de péptidos antimicrobianos pelas células de Paneth, elementos cruciais na defesa imune local. Este ambiente alterado favoreceu, por sua vez, uma redução na diversidade do microbioma e uma susceptibilidade acrescida a patógenos intestinais. “O nosso estudo mostra que o impacto do CARD14 não se confina à pele”, afirmou Aigerim Aidarova, primeira autora do trabalho. “No intestino, esta mutação provoca alterações subtis, mas importantes, que podem contribuir para sintomas intestinais subclínicos nos doentes que a possuem.”
A investigação vem assim complicar a perceção sobre este gene, mostrando como uma única variante genética pode orquestrar efeitos em múltiplos órgãos. “Este trabalho alarga a nossa compreensão sobre como uma variante genética única pode influenciar diferentes órgãos do corpo”, referiu o Prof. Rudi Beyaert. Já a Dr.ª Inna Afonina acrescentou que o modelo animal desenvolvido “oferece uma ferramenta valiosa para estudar mais aprofundadamente as perturbações de inflamação e motilidade intestinais”. As implicações clínicas são palpáveis, sugerindo que pode ser benéfico estar atento a sintomas intestinais em portadores da mutação, abrindo caminho a novas abordagens terapêuticas.
Referências bibliográficas:
Aidarova, A., et al. (2025). *The psoriasis-associated CARD14E138A variant alters gut homeostasis and increases susceptibility to intestinal infection*. EMBO Molecular Medicine.
NR/HN/ALphaGalileo



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