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Num evento integrado na 18.ª Edição do Prémio de Boas Práticas em Saúde, uma iniciativa da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar (APDH), foi apresentado esta manhã o projeto “A Casa na Árvore”. Trata-se de um Programa de Intervenção Terapêutica Intensiva do Serviço de Reabilitação Pediátrica e Desenvolvimento (SRPD) da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, especificamente desenhado para crianças com paralisia cerebral.
A apresentação esteve a cargo de Tânia Macedo, Enfermeira Especialista em Saúde Infantil e Pediatria e Coordenadora do Serviço de Ambulatório do Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão. O programa nasceu da reflexão de que, nestas crianças, os progressos motores nem sempre acompanham na mesma medida as aquisições em áreas funcionais. Esta perceção conduziu a uma mudança de paradigma na intervenção, apostando em modelos intensivos, mas com um propósito funcional claro e um forte envolvimento da criança e da sua família. Sustentado pela evidência científica, o modelo adotado defende que as intervenções intensivas centradas na participação e na articulação com as famílias são as que produzem os melhores resultados.
O principal objetivo do “Casa na Árvore” é promover a autonomia, a funcionalidade e a participação das crianças nas atividades diárias. Para operacionalizar esta meta, o programa utiliza uma ferramenta designada por Goal Attainment Scaling, que permite definir, graduar e negociar objetivos individualizados em conjunto com a família, assegurando que a intervenção é centrada na pessoa, mensurável e baseada em resultados concretos.
A intervenção é guiada por princípios muito claros: é intensiva, sistemática e ecológica, significando que ocorre de forma integrada em contextos reais da vida da criança. A rotina diária no programa é composta por atividades significativas, desde as atividades de vida diária até às de lazer, adaptadas individualmente. O processo assenta num ciclo de avaliação e planeamento individualizado, implementação e reavaliação contínua, com registos diários e relatórios partilhados com a família no final, complementados com questionários de satisfação para aferir o impacto real da intervenção.
Num piloto inicial, o programa envolveu cinco crianças com um rácio de um profissional para cada criança, garantindo uma intervenção intensiva e personalizada. Os resultados observados refletiram-se em múltiplas dimensões: nas crianças, verificaram-se benefícios no desempenho, autoestima e autoconfiança, que por sua vez promoveram uma maior participação no contexto sociofamiliar e escolar; nos cuidadores, registaram-se ganhos na qualidade de vida; e no serviço, através da racionalização de recursos.
O sucesso e a sustentabilidade do modelo permitiram a sua consolidação e evolução para uma segunda edição, que incorporou melhorias, como o aumento do número de participantes, a otimização do tempo de intervenção para seis horas diárias (num total de 60 horas), alinhando-se com as guidelines internacionais, e a utilização de instrumentos de avaliação complementares. Foi também desenvolvida uma ferramenta própria para monitorização parental dos objetivos. Uma parceria com o Grupo Auchan permitiu alargar o programa a crianças de contextos socioeconómicos mais vulneráveis.
O projeto “A Casa na Árvore” foi reconhecido internacionalmente, tendo sido selecionado para apresentação na conferência científica da European Academy of Childhood Disability. É apontado como um exemplo de boa prática em saúde por se basear na evidência, ser centrado na pessoa, promover a participação ativa, valorizar a eficiência e a inovação, demonstrar sustentabilidade e ser replicável. Acima de tudo, é um projeto que traduz a ciência e o humanismo em ganhos concretos e numa melhoria real da qualidade de vida das crianças e das suas famílias.



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