Projeto PHDA: Uma Resposta Multidisciplinar no Litoral Alentejano

27 de Outubro 2025

No âmbito da 18.ª Edição do Prémio de Boas Práticas em Saúde, uma iniciativa da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar (APDH), foi apresentado hoje o projeto “PHDA em Meio Escolar – Capacitar para Melhor Acompanhar”, promovido pela Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano. A intervenção coube a Inês Loução de Almeida, Enfermeira Especialista […]

No âmbito da 18.ª Edição do Prémio de Boas Práticas em Saúde, uma iniciativa da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar (APDH), foi apresentado hoje o projeto “PHDA em Meio Escolar – Capacitar para Melhor Acompanhar”, promovido pela Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano. A intervenção coube a Inês Loução de Almeida, Enfermeira Especialista em Enfermagem Comunitária desta unidade de saúde.

O projeto tem como ponto de partida o reconhecimento da Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) como um distúrbio do neurodesenvolvimento com elevada prevalência em idade escolar e consequências significativas ao longo da vida, como o aumento do risco de desemprego, consumo de substâncias, acidentes, insucesso académico e baixa autoestima. A abordagem do tratamento deve ser multimodal, combinando terapêutica farmacológica e não farmacológica, e requer o envolvimento ativo de profissionais de saúde, educadores e famílias.

Perante a realidade específica do Litoral Alentejano, caracterizada pela falta de recursos nas escolas e nos serviços de saúde, com os hospitais de referência em psiquiatria localizados a grande distância (Setúbal e Lisboa), o projeto visa diminuir as iniquidades no acesso a cuidados de saúde mental. A equipa do projeto é multidisciplinar, incluindo uma médica de saúde pública, uma médica interna, uma enfermeira especialista, uma psicopedagoga, uma psicóloga e um professor.

A intervenção estrutura-se em três eixos fundamentais: os profissionais dos cuidados de saúde primários, as equipas locais de saúde escolar e os profissionais dos estabelecimentos de ensino (docentes, técnicos especializados e assistentes operacionais). Para cada um destes eixos foram desenvolvidas atividades e instrumentos específicos. Destacam-se a realização de ações de capacitação que abrangeram 63 profissionais de saúde, a criação de um fluxograma de encaminhamento para uniformizar e agilizar o percurso da criança desde a sinalização na escola até à referenciação para os serviços especializados, e o desenvolvimento de um folheto informativo para pais e docentes, bem como de um plano de saúde individual específico para a PHDA.

Os resultados obtidos até ao momento são tangíveis. Foi possível caracterizar a população escolar com diagnóstico ou suspeita de PHDA no Litoral Alentejano, identificando uma prevalência maior no sexo masculino e no 1.º ciclo, com uma média de idades de 12 anos e um desempenho académico inferior. A aplicação de questionários pré e pós-formação revelou uma melhoria significativa de 20,8% nos conhecimentos dos docentes e técnicos e de 22,9% nos das assistentes operacionais, confirmando a eficácia da capacitação. O projeto foi ainda distinguido com o prémio de melhor poster no 6.º Congresso Nacional de Hiperatividade e Défice de Atenção.

No futuro, o projeto prevê a expansão da sua intervenção, nomeadamente através da realização de uma tertúlia para famílias, de uma segunda edição da formação para profissionais de saúde e da extensão do curso a todos os cinco concelhos do Litoral Alentejano. Está também prevista a replicação do modelo noutra unidade local de saúde, refletindo o reconhecimento interno e externo do seu valor. Em suma, esta iniciativa demonstra como uma abordagem multidisciplinar e intersetorial, focada na capacitação e na criação de instrumentos de suporte, pode otimizar a resposta à PHDA em meio escolar, potenciando uma atuação precoce e articulada que traz ganhos evidentes para a coesão das equipas e, sobretudo, para o bem-estar das crianças.

RED/HN

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