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Num tom que alternou entre a contenção formal e a crítica política vincada, José Luís Carneiro lançou o desafio direto a Luís Montenegro. Na sede socialista, em Lisboa, o líder da oposição não pediu explicitamente a demissão de Ana Paula Martins, mas deixou o veredicto nas mãos do chefe do Governo, num movimento que mistura pressão institucional com um certo cálculo tático.
A espinha dorsal da sua intervenção foi a notícia avançada pelo jornal Público, que dava conta de instruções expedidas pela Direção Executiva do SNS no sentido de conter a despesa hospitalar, mesmo que tal signifique um abrandamento no agendamento de consultas e de intervenções cirúrgicas. Carneiro classificou o facto como possuindo uma “gravidade inaudita”, uma expressão que ecoou na sala sem necessidade de adornos retóricos adicionais.
“Compete ao primeiro-ministro transmitir, com gentileza, à ministra da Saúde que ela está sem autoridade política”, afirmou, num uso lexical peculiar onde a cortesia se entrelaça com a sentença política. A sua perspetiva é a de que apenas Montenegro detém a legitimidade para este ato, sendo “o primeiro e o último responsável” pela equipa que escolheu. “Só ele pode responder aos portugueses”, enfatizou, rematando a ideia com uma solidez que não admitia margem para ambiguidades.
O raciocínio de Carneiro construiu-se numa negociação cuidadosa com o seu próprio papel. Isentou-se de, “por princípio”, exigir cabeças, atribuindo exclusivamente a Montenegro a competência para “avaliar e decidir” sobre a permanência dos seus ministros. Foi uma forma de exercer uma oposição feroz sem desrespeitar os cânones da disputa entre as fações partidárias, ainda que o resultado prático da sua fala seja inequívoco: colocar a ministra da Saúde sob um fogo cruzado de que dificilmente sairá incólume.
O desafio está agora em aberto, à espera de uma reação do Executivo.
NR/HN/Lusa



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