PS pressiona Montenegro a demitir ministra da Saúde após polémica de cortes no SNS

29 de Outubro 2025

O secretário-geral do PS instou o primeiro-ministro a exonerar a ministra da Saúde. Carneiro considera que Ana Paula Martins perdeu autoridade após ordens de contenção de despesa que podem atrasar procedimentos clínicos, um episódio de gravidade ímpar

Num tom que alternou entre a contenção formal e a crítica política vincada, José Luís Carneiro lançou o desafio direto a Luís Montenegro. Na sede socialista, em Lisboa, o líder da oposição não pediu explicitamente a demissão de Ana Paula Martins, mas deixou o veredicto nas mãos do chefe do Governo, num movimento que mistura pressão institucional com um certo cálculo tático.

A espinha dorsal da sua intervenção foi a notícia avançada pelo jornal Público, que dava conta de instruções expedidas pela Direção Executiva do SNS no sentido de conter a despesa hospitalar, mesmo que tal signifique um abrandamento no agendamento de consultas e de intervenções cirúrgicas. Carneiro classificou o facto como possuindo uma “gravidade inaudita”, uma expressão que ecoou na sala sem necessidade de adornos retóricos adicionais.

“Compete ao primeiro-ministro transmitir, com gentileza, à ministra da Saúde que ela está sem autoridade política”, afirmou, num uso lexical peculiar onde a cortesia se entrelaça com a sentença política. A sua perspetiva é a de que apenas Montenegro detém a legitimidade para este ato, sendo “o primeiro e o último responsável” pela equipa que escolheu. “Só ele pode responder aos portugueses”, enfatizou, rematando a ideia com uma solidez que não admitia margem para ambiguidades.

O raciocínio de Carneiro construiu-se numa negociação cuidadosa com o seu próprio papel. Isentou-se de, “por princípio”, exigir cabeças, atribuindo exclusivamente a Montenegro a competência para “avaliar e decidir” sobre a permanência dos seus ministros. Foi uma forma de exercer uma oposição feroz sem desrespeitar os cânones da disputa entre as fações partidárias, ainda que o resultado prático da sua fala seja inequívoco: colocar a ministra da Saúde sob um fogo cruzado de que dificilmente sairá incólume.

O desafio está agora em aberto, à espera de uma reação do Executivo.

NR/HN/Lusa

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