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A Ágora do Hospital de Braga transformou-se numa galeria de rostos e histórias. A exposição internacional BOLD, da fotógrafa holandesa Caroline Sikkenk, inaugurou esta segunda-feira, imprimindo no espaço comum uma narrativa visual sobre a força e a dignidade de quem viveu com o cancro. A iniciativa, que se alinha com as comemorações do Outubro Rosa, fica patente ao público durante todo o mês de novembro.
Os retratos de grande escala, que dificilmente passam despercebidos a quem circula pela Ágora, capturam mais do que simples imagens. São testemunhos silenciosos, mas eloquentes, de uma jornada íntima e profundamente transformadora. Os modelos, voluntários que experienciaram a perda de cabelo devido a tratamentos como a quimioterapia ou a radioterapia, bem como por alopecia, emprestam os seus rostos ao projeto num ato de partilha e desafio aos estereótipos. Caroline Sikkenk, através da sua lente, procura subverter a noção convencional de beleza, encontrando-a na vulnerabilidade assumida e na resiliência que a doença, por vezes, revela.
Para Paulo Morais, Presidente da Associação Rosa Vida, parceira na organização, a mostra funciona como um manifesto. “Esta exposição é um poderoso manifesto sobre a dignidade humana. Cada retrato é uma afirmação de coragem e esperança, que recorda que o cancro não define as pessoas, revela, antes, a sua verdadeira força”, afirmou. A perspetiva é partilhada pela administração do hospital, que vê na arte um instrumento complementar ao cuidado clínico.
Américo Afonso, Presidente do Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde de Braga, sublinhou o impacto humanizador da iniciativa no ambiente hospitalar. “Acolher esta exposição é uma forma de humanizar o espaço comum do nosso hospital, por onde passam milhares de pessoas todas as semanas, e de reforçar a nossa missão enquanto instituição que cuida das pessoas em todas as dimensões, física, emocional e social. Estes retratos lembram-nos de que a arte também pode ser um instrumento de cura e de valorização da vida”, referiu.
O projeto BOLD, que já percorreu vários países, estabelece assim uma pausa para a reflexão em Braga. A coragem, aqui, não é um atributo ausente, mas sim uma presença tangível, esculpida na expressão serena de cada um dos retratados. Uma metamorfose do olhar perante a adversidade, convidando a que se veja para além da doença e se celebre a identidade que persiste e, muitas vezes, se fortalece no percurso. A exposição promete continuar a gerar conversas e a tocar quem por ela passar, cumprindo o seu desígnio de dar voz a uma experiência muitas vezes vivida em silêncio.
PR/HN



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