Endometriose: Estudo Revela Assinatura Proteica no Endométrio que Explica Riscos na Gravidez

30 de Outubro 2025

Investigadores espanhóis identificaram 35 proteínas alteradas no endométrio de mulheres com endometriose, essenciais para o metabolismo energético e tolerância imunitária. A descoberta, apresentada no congresso da ASRM, pode redefinir o acompanhamento da gravidez nestas mulheres

Um estudo pioneiro apresentado no 81.º Congresso da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva, em San Antonio, revela que o endométrio de mulheres com endometriose apresenta uma assinatura molecular distinta, capaz de explicar a maior incidência de infertilidade e complicações gestacionais como a pré-eclâmpsia. A equipa, liderada por investigadores do Instituto de Investigação em Saúde do Hospital La Fé, em Valência, analisou o perfil proteico de mais de seis mil proteínas, tendo encontrado 363 com expressão alterada. Dessas, 35 mostraram-se particularmente relevantes — todas elas implicadas em mecanismos biológicos decisivos para que uma gravidez prossiga sem sobressaltos.

Segundo a Dra. Hortensia Ferrero, coordenadora do trabalho e investigadora da Fundação IVI, a chave reside em funções celulares tão básicas quanto vitais: o metabolismo da glicose, a produção de energia, a arquitetura celular e, sobretudo, a tolerância do sistema imunitário ao embrião. “Graças a estes modelos tridimensionais, conseguimos observar como o endométrio de mulheres com endometriose reage de forma diferente, apresentando alterações em proteínas-chave para uma gravidez saudável”, afirmou Ferrero. A impossibilidade de recolher tecido uterino de grávidas por questões éticas levou à criação de réplicas laboratoriais do endométrio, sujeitas a hormonas de gestação para mimetizar o ambiente inicial da gravidez.

Para o Dr. Samuel Ribeiro, diretor clínico do IVI Lisboa, o impacto clínico destes dados poderá ser considerável. “Compreender estas diferenças pode ser determinante para melhorar os cuidados de saúde reprodutiva”, sublinhou. E avançou: “A longo prazo, estas descobertas são um passo importante para permitir o desenvolvimento de terapias personalizadas e estratégias de diagnóstico precoce que promovam gravidezes mais seguras em mulheres com endometriose”.

A endometriose, que afeta uma em cada dez mulheres, tem sido habitualmente associada à dor pélvica e à infertilidade. Agora, confirma-se que as alterações não se confinam aos locais usualmente afetados pela doença, mas estendem-se ao próprio tecido endometrial, modificando o seu ambiente molecular. Essa disfunção global compromete a receção ao embrião e a progressão da gestação, criando um terreno propício a complicações.

O caminho que se abre com este estudo — um dos mais aprofundados na área — sugere que, no futuro, será possível intervir de forma mais precisa, corrigindo ou contornando estas alterações proteicas. O objetivo último é transformar um diagnóstico complexo num prognóstico mais otimista, oferecendo não apenas a esperança de conceção, mas também a de uma gravidez a termo sem sobressaltos.

PR/HN

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