Presidente da República defende reforço dos cuidados primários no SNS e questiona parceria com privados

31 de Outubro 2025

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, apelou hoje a uma maior atenção aos cuidados de saúde primários em Portugal e manifestou dúvidas quanto ao recurso ao setor privado neste nível do sistema, considerando essa opção "idealista, para não dizer irrealista".

No encerramento de uma conferência sobre os 50 anos do Serviço Médico na Periferia (SMP), realizada no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, o chefe de Estado destacou o papel específico e singular do Serviço Nacional de Saúde (SNS), sublinhando a importância da sua rede pública nos cuidados primários, apesar das deficiências existentes. “Nos cuidados primários, com todos os seus problemas, a rede pública do SNS, mesmo quando tem deficiências, fruto de circunstâncias muito variadas, tem uma experiência e uma tradição que os outros setores vão ter muita dificuldade em responder no imediato. Isto não é ideológico, é assim, é a realidade”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa .

O Presidente da República frisou que a ideia de partilhar os cuidados básicos com outros setores da saúde, incluindo a sua formação, continua a ser “idealista, para não dizer irrealista”. “A capacidade que têm os outros setores de formar, basicamente, profissionais de saúde em certas áreas específicas, e com certas responsabilidades ou complexidades, ainda é muito limitada, e vai ser durante um tempo. É natural, não é depreciar. Demora tempo”, acrescentou .

Marcelo Rebelo de Sousa referiu ainda a possibilidade de associar o público e o privado nos cuidados primários, através de concessões ou parcerias, mas admitiu que o setor privado possa não querer ou não ter capacidade para tal, por ainda não dispor dos meios ou da dimensão necessária. “Sem o reforço de cuidados primários, que é sempre desejável, e tem sido tentado por várias formas, mas sem esse reforço, adaptado à evolução demográfica do país, e à mobilidade no país, tudo vai cair em cima de outras realidades dos cuidados de saúde, nomeadamente hospitalares”, alertou .

O Presidente da República ligou o papel do SNS à realidade demográfica e social do país, recordando que Portugal é um país envelhecido e com entre dois a dois milhões e meio de pobres, número que pode variar consoante as crises. “Portugal é um país que, mesmo com a evolução verdadeiramente rapidíssima dos seguros privados de saúde, não tem metade sequer da população coberta por esses seguros – já não contando que muitos desses seguros não cobram cuidados de saúde os mais complexos e exigentes”, acrescentou.

lusa/HN

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