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Num tom de franco desafio, o líder socialista José Luís Carneiro exigiu hoje ao Governo de Luís Montenegro que se pronuncie de forma clara sobre a eventual necessidade de contar com o PS para desenhar uma política para a saúde. A provocação foi lançada à saída de uma visita ao festival Amadora BD, na Amadora, na sequência do apelo do Presidente da República por um acordo de médio prazo para o setor.
Carneiro não poupou críticas ao Executivo, sustentando que este, ao “decapitar” uma reforma em curso dos governos de António Costa sem qualquer avaliação, criou um vazio de orientação. “Se quer o contributo do PS, tem que reconhecer que falhou”, afirmou, lembrando a premissa de que o Governo foi “lesto a atacar os governos do PS na área da saúde”. A narrativa de um caminho interrompido serviu de pano de fundo para um dos pontos mais incisivos da sua intervenção, ao acusar o primeiro-ministro de ser o verdadeiro responsável por um “falhanço clamoroso” que, na sua leitura, se tornou evidente.
O desafio para uma tomada de posição pública surge da perceção de que o Governo “dispensa o apoio do PS”, uma atitude que Carneiro considera ter custos. “Se fosse sensível às propostas, talvez alguns dos problemas graves que se viveram no verão não se tivessem vivido”, disse, numa alusão direta à gestão das urgências hospitalares e à proposta alternativa que os socialistas entregaram. A conversa com os jornalistas transformou-se num tribunal de acusação, onde o líder da oposição interrogou a credibilidade das contas do Governo, questionando a viabilidade de um corte de 10% na despesa do SNS face aos défices acumulados. “Alguém acredita naquilo que o primeiro-ministro está a dizer ao país?”, lançou, sem esperar por resposta.
Esta troca de palavras ocorre um dia depois de Marcelo Rebelo de Sousa, numa conferência no ISCTE, ter defendido a necessidade de um entendimento político que defina o papel do SNS, do setor social e do setor privado. O Presidente da República criticou a habitual instabilidade das políticas de saúde, que mudam com a cor partidária do Governo, e sublinhou que, acordo ou não, será imperativa uma decisão sobre a arquitetura do sistema. Um cenário que Carneiro parece aceitar, mas apenas se o Governo deixar de lado o que classifica como um desbarato do trabalho anterior e um excesso de autossuficiência.
NR/HN/Lusa



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