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A formação de médicos especialistas em Portugal enfrenta um paradoxo: nos últimos dois anos, aumentou o número de vagas abertas para o internato, mas diminuiu a quantidade das que conseguem ser preenchidas. Os dados, que constam da nota explicativa do Orçamento do Estado para 2026 (OE2026), mostram um recuo concreto no preenchimento destas vagas cruciais para o Serviço Nacional de Saúde (SNS).
A situação foi tornada pública no mesmo dia em que a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, compareceu na Assembleia da República para a audição na especialidade da proposta de orçamento. O documento do Governo, disponível online, traça um panorama claro da quebra. Em 2023, das 2.133 vagas de internato de formação geral abertas, foram ocupadas 1.992. No ano seguinte, o número total de lugares subiu para 2.187, mas apenas 1.939 encontraram candidato. Já em 2025, com uma oferta praticamente estabilizada em 2.190 vagas, o preenchimento caiu ainda mais, para 1.915.
Um padrão similar, ainda que com números ligeiramente distintos, verifica-se no capítulo da formação especializada. Aqui, a oferta foi de 2.044 vagas em 2023 (1.883 preenchidas), subiu para 2.244 em 2024 (1.836 ocupadas) e fixou-se em 2.158 para 2025, das quais apenas 1.851 tiveram destino assegurado. São números que, no seu todo, desenham uma curva descendente que não passou despercebida aos redatores da proposta orçamental.
O próprio Governo assume, com uma franqueza pouco habitual, a existência do problema. No documento lê-se que “os últimos dois anos têm sido caracterizados por uma tendência de agravamento no preenchimento das vagas abertas”, um fenómeno que está a ser “especialmente sentido em 2024 e 2025”. Esta admissão oficial surge num contexto de apreciação parlamentar de uma proposta que aloca mais de 17 mil milhões de euros à área da Saúde, um montante onde se espera que esteja contida alguma resposta para este desajuste preocupante no início da carreira dos médicos. A discrepância entre oferta e procura deixa no ar uma interrogação sobre o destino de centenas de lugares de formação que, ano após ano, ficam vazios.
NR/HN/Lusa



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