Tragédia no Hospital Amadora-Sintra: Bebé morre um dia após a morte da mãe

1 de Novembro 2025

A recém-nascida submetida a cesariana de emergência após a morte da mãe não resistiu. O caso, envolto em questões sobre o seguimento clínico, motivou a abertura de três processos de avaliação pelas entidades competentes

A bebé que nasceu através de uma cesariana de emergência no Hospital Amadora-Sintra morreu na manhã deste sábado, dia 01 de novembro. A morte ocorre apenas 24 horas após o óbito da mãe, uma gestante de 36 anos, natural da Guiné-Bissau.

Uma fonte oficial da Unidade Local de Saúde (ULS) Amadora-Sintra confirmou à Lusa que o desfecho aconteceu pelas 07:00, atribuído ao “estado clínico em que se encontrava” a recém-nascida. A instituição, que se diz profundamente consternada, endereçou as suas condolências à família enlutada.

Os contornos do caso remontam a sexta-feira, quando a grávida, de 38 semanas, deu entrada no hospital em paragem cardiorrespiratória. Diogo Bruno, diretor do serviço de urgência obstétrica e ginecológica, descreveu uma atuação imediata da equipa. “Portanto, a atitude que foi tomada foi suporte avançado de vida e extração do bebé assim que possível e foi super rápido”, afirmou. A criança foi internada nos cuidados intensivos neonatais com “prognóstico reservado”.

Segundo o relato da ULS Amadora-Sintra, o percurso da gestante no sistema começou dois dias antes da tragédia. Na quarta-feira, deslocou-se ao hospital “assintomática” para uma consulta de rotina. Durante essa avaliação, foi-lhe identificada uma hipertensão ligeira. Diogo Bruno explicou que, “por extra cuidado”, a mulher foi enviada para a urgência para despiste de pré-eclâmpsia, uma complicação grave da gravidez. Após exames que, nas suas palavras, “descartaram complicações importantes”, a paciente recebeu alta. Foi-lhe dado “ensino dos sinais de alarme” para voltar a recorrer aos serviços se necessário, com indicação para um internamento programado apenas às 39 semanas.

O diretor admitiu lacunas no historial clínico. A grávida, que teria chegado recentemente a Portugal, não teve um “seguimento ideal”. “Tinha, efetivamente, uma história não bem esclarecida de hipertensão”, reiterou, acrescentando que na consulta os níveis tensionais se apresentavam “ligeiramente elevados”.

A dupla morte desencadeou uma vaga de reações institucionais. O Conselho de Administração do hospital determinou a abertura de um inquérito interno para esquadrinhar todos os contextos do caso. Paralelamente, a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) instaurou um processo de inquérito para avaliar a assistência prestada. A Entidade Reguladora da Saúde (ERS) seguiu o mesmo caminho, anunciando a abertura de um processo de avaliação com idêntico objetivo. Aguardam-se agora os desfechos destas averiguações.

NR/HN/Lusa

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Urgências em Portugal: quase 16 milhões de atendimentos em dois anos e meio

As urgências do Serviço Nacional de Saúde (SNS) em Portugal registaram quase 16 milhões de atendimentos entre 2022 e junho de 2024, uma procura que se mantém elevada e é mais do dobro da média verificada nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). 

Resistência aos antibióticos causa 35 mil mortes anuais na Europa

A resistência aos antibióticos é responsável por mais de 35 mil mortes por ano na União Europeia e no Espaço Económico Europeu, segundo estimativas do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC). Este fenómeno continua a aumentar, representando um grave desafio para a saúde pública na Europa.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights