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A diabetes continua a sua marcha ascendente em Portugal, com a prevalência da doença a fixar-se nos 14,2% da população no ano passado, o valor mais alto alguma vez registado. Os números, avançados pelo Relatório Anual do Observatório Nacional da Diabetes, confirmam uma tendência crescente e mostram que os Cuidados de Saúde Primários identificaram 88.476 novos casos em 2024.
Rita Nortadas, Presidente do Observatório Nacional da Diabetes, não hesita em classificar a situação como uma “epidemia que continua a crescer”. A responsável alerta, contudo, para um dado particularmente incómodo que teima em resistir à evolução positiva de outros indicadores: o número de amputações relacionadas com a doença mantém-se inalterado há uma década. “Apesar de termos recuperado os rastreios e as consultas após a pandemia, o número de amputações continua inalterado. É um sinal de que ainda falhamos no controlo das complicações mais graves da doença”, admitiu, citada num comunicado. O documento especifica que as amputações de maior gravidade representam uma fatia idêntica às de menor dimensão.
Esta realidade persiste num cenário em que o custo direto da diabetes para o país foi estimado entre 1.500 e 1.800 milhões de euros no ano passado. Um valor que, nas contas do relatório, equivale a 0,5% a 0,6% do Produto Interno Bruto nacional e consome entre 5% a 6% da despesa total em saúde.
Apesar do panorama geral sombrio, o documento elaborado pela Sociedade Portuguesa de Diabetologia (SPD) não deixa de assinalar alguns avanços. Regista-se, por exemplo, uma quebra de 39% nos anos potenciais de vida perdidos por diabetes na última década. A doença recuou ligeiramente enquanto causa de morte e os internamentos hospitalares com a diabetes como diagnóstico principal ou associado sofreram uma diminuição significativa. Mais de 90% desses internamentos concentram-se na população adulta.
Um sinal de que o sistema pode estar a reagir encontra-se no facto de 85,3% das pessoas com diabetes terem tido, pelo menos, uma consulta registada no Serviço Nacional de Saúde em 2024, um reflexo da recuperação da atividade nos Caminhos de Saúde Primários. No entanto, Rita Nortadas aponta um obstáculo de raiz: “A ausência de dados mais detalhados — por tipo de diabetes, por setor e por região — continua a ser um obstáculo à formulação de políticas de saúde eficazes”. A sua visão é clara sobre o caminho a seguir, defendendo a necessidade de “avançar para sistemas de informação integrados que permitam decisões baseadas em evidência”.
Num balanço final, a presidente do Observatório remata com um argumento económico que é também social: “A diabetes representa até 0,6% do PIB nacional. Investir na prevenção e na gestão da doença é investir na sustentabilidade do sistema de saúde e na qualidade de vida das pessoas”. Em Portugal, cerca de 1,1 milhões de adultos vivem com a doença, um número que espelha a dimensão do desafio.
O relatório “Diabetes: Factos e Números” de 2025, com base em dados de 2024, está disponível para consulta no site da Sociedade Portuguesa de Diabetologia.



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