![]()
A inteligência artificial deve operar como um aliado dos profissionais de saúde, nunca como sua substituição, defendem especialistas. Esta foi a tónica central de uma mesa-redonda no I Congresso de Psicologia e Ciências da Saúde da Universidade Europeia, que juntou académicos e clínicos para um debate urgente sobre o impacto da tecnologia no setor. A conclusão unânime aponta para um futuro onde a máquina liberta tempo para o essencial: o contacto humano.
André Silva, da Universidade Europeia, moderou o painel que contou com a presença de Rita Veloso e Marta Marques, da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa, Alberto Alves, diretor-adjunto do Programa Nacional para a Promoção da Atividade Física da Universidade da Maia, e Belén Rando, do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas. O foco esteve longe de ser meramente técnico, mergulhando nos complexos dilemas que a automação introduz na prática clínica.
Os oradores apresentaram casos concretos onde a tecnologia, bem aplicada, otimiza processos sem esbater a empatia. No IPO do Porto, a instalação de quiosques de check-in permitiu uma reorganização das equipas que se traduziu em mais horas de apoio direto ao doente. Já no Hospital de Santo António, um sistema automatizado de gestão de chamadas para a cirurgia de ambulatório mostrou que é possível ganhar eficiência sem sacrificar a personalização do atendimento. São exemplos que, na visão dos peritos, ilustram o equilíbrio possível.
Contudo, o debate não ignorou a espinhosa questão da ética. A delegação de decisões clínicas em algoritmos baseados em probabilidades, um mecanismo inerentemente opaco para o comum dos cidadãos, levanta problemas de responsabilidade civil e justiça. Como garantir que os valores humanos prevalecem sobre a mera estatística? A resposta parece residir na exigência de modelos transparentes e auditáveis, algo que ainda está longe de ser uma norma na indústria.
Houve mesmo espaço para uma digressão histórica, lembrando que a inteligência artificial não nasceu com os chatbots atuais. As suas raízes remontam aos anos 50, às primeiras e ingénuas tentativas de simular a cognição, percorrendo um caminho sinuoso até chegar às atuais redes neurais e sistemas generativos. Esta perspetiva serviu para sublinhar que a IA é mais do que uma ferramenta; é um desafio filosófico que redefine o papel de profissionais e instituições.
No final, ficou o apelo ao investimento em formação e literacia digital. Preparar as equipas para esta nova realidade é visto como o passo decisivo para evitar que a tecnologia crie um fosso entre o cuidar e o cuidador. A reorganização dos serviços e o desenvolvimento de competências transversais surgem assim como pré-requisitos para que a inteligência artificial se afirme, de facto, a serviço da saúde humana.
O I Congresso de Psicologia e Ciências da Saúde, sob o mote “Novas Tecnologias e Inteligência Artificial: Desafios e Oportunidades na Saúde e Desenvolvimento Humano”, decorreu a 31 de outubro e 1 de novembro. Mais informações sobre o evento estão disponíveis no site da Universidade Europeia
PR/HN



0 Comments