Homens portugueses mostram desconhecimento generalizado sobre saúde reprodutiva

4 de Novembro 2025

Um inquérito nacional revela um défice alarmante de conhecimento entre os homens portugueses sobre doenças do aparelho reprodutor que afetam a fertilidade. Especialistas apelam à criação de uma cultura de prevenção masculina, à imagem do que já existe na saúde ginecológica.

Um inquérito recente sobre atitudes em relação à fertilidade masculina expõe uma realidade preocupante: a maioria dos homens portugueses demonstra um conhecimento limitado ou mesmo inexistente acerca de doenças do seu aparelho reprodutor, condições que podem comprometer seriamente a fertilidade, o bem-estar e a saúde sexual. Termos médicos como orquite ou epididimite soam a língua estrangeira para uma fatia significativa da população masculina, refletindo um défice acentuado de literacia e a ausência de uma cultura de acompanhamento médico preventivo. A investigação, realizada pela GFK, indica que mais de 40% dos participantes admitem nunca ter ouvido falar destas patologias.

O Dr. Samuel Ribeiro, especialista em medicina da reprodução e diretor clínico do IVI Lisboa, sublinha a disparidade gritante em comparação com os cuidados de saúde dedicados às mulheres. “As mulheres beneficiam, desde cedo, de protocolos regulares de vigilância, através de consultas de ginecologia, rastreios e campanhas de sensibilização. É preciso criar rotinas e campanhas específicas para eles”, defende. Segundo o médico, a procura por consultas preventivas no género masculino é residual, e as campanhas existentes são demasiado pontuais, concentrando-se essencialmente no mês de novembro e com foco quase exclusivo no cancro da próstata e testículos. “O mês de sensibilização é importante, mas manifestamente insuficiente. É preciso reforçar a prevenção e a educação em saúde masculina ao longo de todo o ano”, acrescenta, apontando para uma necessidade de mudança estrutural.

O desconhecimento atravessa todas as faixas etárias, mas torna-se particularmente visível no grupo entre os 40 e os 50 anos, uma fase da vida em que muitos homens ponderam a paternidade ou o alargamento da família. A epididimite, uma inflamação do canal que transporta e armazena os espermatozoides, é um completo mistério para 49,2% dos inquiridos, enquanto 28% confessam ter apenas uma vaga noção do que se trata. A orquite, inflamação do testículo, apresenta números semelhantes: 49,4% desconhecem-na por completo e 31,7% sabem muito pouco. Até infeções sexualmente transmissíveis, como a gonorreia, permanecem fora do radar de muitos, com 44,6% a reportarem pouca informação e 24,7% a afirmarem um desconhecimento total.

Conceitos como a infertilidade secundária – dificuldade em engravidar após já se ter tido um filho – são pouco familiares para 41,3% dos homens e desconhecidos para 32,2%. Já a ejaculação retrógrada regista os níveis mais elevados de desconhecimento entre os participantes mais jovens, dos 30 aos 39 anos, com 48,6% a admitirem saber pouco sobre o tema. “Estes dados confirmam que existe um vazio de literacia em saúde masculina. Sem acompanhamento médico de rotina como acontece com as mulheres, não são expostos à mesma quantidade de informação preventiva. Na prática, procuram ajuda quando têm sintomas e, muitas vezes, tardiamente”, analisa o Dr. Samuel Ribeiro.

O estudo, cuja primeira parte foi divulgada no início do ano, já havia mostrado que 67% dos homens pouco ou nada se preocupam com a possibilidade de virem a ter problemas de fertilidade, um dado curioso quando 71% afirmam conhecer alguém que enfrenta essa situação. Esta perceção de imunidade parece estar ligada ao desconhecimento generalizado sobre os fatores de risco. Apesar de existir uma consciência difusa sobre os malefícios do tabaco e do álcool, elementos como o sedentarismo, a obesidade ou a própria idade continuam amplamente desvalorizados no que toca ao seu impacto na capacidade reprodutiva.

PR/HN

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