Um projeto europeu pioneiro, batizado In-Touch, vai tentar transformar a forma como são cuidados os idosos com demência avançada que vivem em lares. A iniciativa, financiada em mais de 7,5 milhões de euros pelo programa Horizon Europe, junta 13 instituições da Europa e da América do Norte e será testada em 56 instituições de sete países, entre os quais Portugal. A coordenação cabe à University College Cork, na Irlanda.

O cerne da intervenção assenta na fusão de duas abordagens complementares. Por um lado, o programa Namaste Care, que recorre a estímulos táteis, olfativos, sonoros e visuais para criar momentos de conforto e comunicação no presente. Por outro, uma estrutura de apoio às famílias designada Comfort Care, que as ajuda a planear, em conjunto com os profissionais, os cuidados futuros e a tomar decisões difíceis sobre o fim de vida de uma forma informada e eticamente sustentada.

Paulo Alves, investigador do Centro de Investigação Interdisciplinar em Saúde (CIIS) da Universidade Católica e coordenador nacional do projeto, descreve o In-Touch como “uma oportunidade única para promover práticas de cuidado mais humanas, baseadas em evidência científica e alinhadas com princípios éticos de dignidade e compaixão”. Já Carla Pais-Vieira, sua co-coordenadora, realça que o projeto “procura compreender o que as pessoas com demência, as famílias e os profissionais valorizam eticamente nos cuidados de fim de vida”, indo além de uma mera avaliação.

A implementação exige um esforço formativo ambicioso. Está previsto um programa de formação europeu, com módulos presenciais e digitais, destinado a equipas de profissionais, auxiliares, cuidadores e coordenadores. O objetivo é dotá-los de ferramentas para aplicar estas práticas com sensibilidade cultural e rigor ético, promovendo uma mudança de mentalidades que, espera-se, reduza o desgaste profissional e eleve a qualidade dos cuidados.

Em Portugal, onde a integração de cuidados paliativos na demência é ainda incipiente, o papel da Católica será crucial. Caberá à instituição não só a adaptação cultural do protocolo, mas também a constituição e animação de um Grupo Consultivo Nacional que reúna familiares, profissionais e representantes de instituições. A ideia é que a experiência de todos contribua para co-construir um modelo de cuidados mais personalizado.

O horizonte temporal do In-Touch estende-se até 2028. Os promotores acreditam que, ao capacitar equipas, envolver as famílias e disseminar boas práticas, o projeto poderá funcionar como um motor de mudança, com efeitos multiplicadores no sistema de cuidados de longa duração. Mais do que um estudo, ambiciona ser um catalisador para um modelo assistencial mais compassivo e sensorialmente rico, com impacto direto na qualidade de vida dos residentes e na qualificação das instituições.