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HealthNews (HN) – O tema do 15.º Simpósio Aquém e Além do Cérebro é “Experiências de Fim de Vida”. Pode explicar o significado e o âmbito deste tema, e o que motivou a sua escolha para a edição de 2026?
A morte é um fenómeno universal e, como tal, está intimamente ligada ao que significa ser humano. E, no entanto, apesar do seu carácter universal, a morte é uma experiência que quase só tem sido abordada através das tradições espirituais ou da filosofia. Atualmente, porém, também é possível uma abordagem científica da morte. Psicólogos e neurocientistas estão a tentar compreender o que acontece quando morremos, quando nos aproximamos da morte, ou, talvez de forma mais provocatória, o que acontece depois de morrermos. O nosso principal objetivo com o 15.º simpósio é promover um diálogo interdisciplinar genuíno e aberto sobre esta que é uma das questões mais importantes.
HN – Quais são os principais objetivos científicos que espera que este simpósio alcance? Existe alguma questão em particular no estudo das experiências de fim de vida que considere urgente discutir, ou que será um foco central dos debates?
O objetivo do simpósio não é tanto trazer novos dados para a comunidade, mas sim promover a troca de ideias num formato aberto e criativo. Certamente que um dos aspetos centrais dos debates se centrará em torno da tensão entre as abordagens estritamente científicas da morte e as abordagens mais espirituais, que muitas vezes deixam em aberto a possibilidade de uma existência continuada após a morte. Poderemos conciliar a esperança de que a morte é uma mera transição com os factos da biologia?
HN – Olhando para a lista de palestrantes, que inclui investigadores de renome mundial como Sam Parnia, Jim Tucker e Christof Koch, entre outros, como é que esta diversidade de perspetivas pode contribuir para uma compreensão mais aprofundada deste fenómeno?
A morte é um tema de investigação profundamente interdisciplinar. Podemos considerar a realidade crua dos processos biológicos que ocorrem quando um organismo morre. Mas esse organismo também vive experiências enquanto está a morrer. Precisamos de ligar estes dois aspetos do que significa morrer, e também compreender melhor os processos que levam à morte. E depois, claro, a morte é constitutiva da existência. Tem sido objeto de inúmeras reflexões, na filosofia e na religião, nas culturas ancestrais e nos tempos modernos, na fantasia e na realidade. Talvez não haja outro tema que mereça mais uma abordagem interdisciplinar, pois talvez nada seja mais significativo do que o nosso conhecimento de que a nossa vida vai terminar.
HN – Em comparação com os anteriores Simpósios da Fundação Bial, o que há de novo nesta edição, seja na abordagem, no formato ou no tipo de conhecimento que se espera gerar?
O que há de novo neste simpósio é provavelmente o facto de o seu tema ser tão desafiante e tão fascinante que talvez tenha sido negligenciado durante demasiado tempo. Fora isso, o simpósio seguirá o seu formato bem-sucedido, estabelecido ao longo das suas anteriores edições.
HN – Na sua opinião, qual poderá ser o impacto potencial do conhecimento discutido neste simpósio noutras áreas, como os cuidados paliativos, a neurologia, ou mesmo a filosofia da mente?
A nossa esperança é que o simpósio contribua para informar tanto as práticas clínicas como a nossa compreensão e aceitação da morte.
HN – O simpósio terá lugar no Porto em 2026. Quais são as suas expetativas para o evento e a sua capacidade de atrair e envolver a comunidade científica e o público interessado, em Portugal e em todo o mundo?
Estou muito otimista quanto ao potencial impacto do simpósio; é uma das raras reuniões que abordará um tema tão sério de forma frontal.
Link para a página do Simpósio
Entrevista MMM



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