“Curto, curto [prazo], provavelmente não. Mas é isso que se pretende, obviamente, e que se está a construir”, afirmou, em entrevista à Lusa, Carlos Robalo Cordeiro, que participou ontem, na Praia, na cerimónia de imposição de fitas aos primeiros médicos formados pela Universidade de Cabo Verde (UniCV), numa parceria com a UC.
Em outubro de 2015, um total de 25 estudantes foram pioneiros nessa formação, com bolsa do Governo cabo-verdiano, e 17 chegaram ao fim, sendo que 15 receberam ontem os diplomas.
O professor catedrático e pneumologista Carlos Robalo Cordeiro, diretor da Faculdade de Medicina da UC, parceira da primeira edição do Mestrado Integrado em Medicina da UniCV, explicou à Lusa que os estudantes fizeram os primeiros três anos em Cabo Verde, com o apoio de docentes da universidade portuguesa.
Seguiram-se o 4.º e 5.º anos em Coimbra e o 6.º ano novamente no arquipélago, onde vão ficar a exercer medicina – ainda sem especialização -, conforme protocolo entre os dois estabelecimentos de ensino.
Em paralelo com a conclusão da formação destes primeiros médicos por uma universidade cabo-verdiana, embora com passagem por Portugal, a UniCV vai ter também no novo campus, recentemente inaugurado, um Polo de Saúde.
“Começam-se a criar condições também, desde logo nos anos básicos, nos primeiros anos do primeiro ciclo [da licenciatura], para que a formação seja feita aqui, com o suporte dos docentes da Universidade de Cabo Verde. O fundamental é que sejam criadas condições também ao nível hospitalar, para que aqui possam ser lecionadas as diversas valências clínicas”, explicou Carlos Robalo Cordeiro.
“Naturalmente isso exigirá um esforço significativo, mas é para aí que se está a caminhar. Aliás, este processo tem não só em mente criar condições para que estes alunos agora aqui se fixem – ex-alunos e atuais médicos -, mas que sejam também os ‘pontas de lança’ precisamente para essa mudança”, acrescentou.
E essa mudança, sublinhou, prevê a formação integral em Cabo Verde no futuro, ainda ao abrigo do protocolo com a UC.
“Outra das iniciativas que também se tem em mente implementar, no mais breve prazo, é criar condições para que no nosso programa de doutoramento da Faculdade de Medicina sejam incluídos docentes da Universidade de Cabo Verde. Para criar também, não só ao nível da formação pré-graduada, mas depois da formação pré-graduada este tipo de relacionamento. Eu ficarei satisfeito se conseguir assistir a isso em tempo útil. A capacidade da Universidade de Cabo Verde promover em tempo inteiro a formação dos seus estudantes de medicina”, enfatizou Carlos Robalo Cordeiro, que é também pneumologista e professor catedrático.
Ao abrigo do protocolo entre as duas universidades – o primeiro do género da Universidade de Coimbra com os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) – o percurso inicial da formação destes médicos é feito em Cabo Verde, com o apoio dos docentes da Faculdade de Medicina, que se deslocam à Praia, e prossegue com o ciclo clínico feito no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, bem como nas unidades de saúde familiar.
“E depois o 6.º ano médico, em que de facto é um ano de estágios e um ano em que os alunos terão que elaborar uma tese para obterem o mestrado integrado, já é feito de novo aqui. Mas essa tese, esse trabalho de fundo, é feito em colaboração e existe uma dupla coordenação, por um lado por docentes da Faculdade de Medicina e por outro lado também por docentes da Universidade de Cabo Verde”, apontou.
“Isso é muito interessante, porque é algo que queremos acelerar desde o início da estadia dos alunos lá, no 4.º ano. Esse processo de constituição de um tema e de uma área que vão desenvolver depois no seu mestrado integrado, mas é muito interessante que seja com uma dupla tutela. Porque o que se pretende é que seja feito aqui, para que seja, de certa forma promotor também da saúde pública em Cabo Verde”, destacou Carlos Robalo Cordeiro.
O diretor da faculdade portuguesa enalteceu ainda o “significado histórico” deste apoio à formação dos médicos cabo-verdianos.
“Estamos a fazer esta colaboração de alma e coração, de forma empenhada, os nossos docentes têm colaborado de uma forma muito impressiva, ao deslocarem-se aqui durante os três primeiros anos, ao receberem estes alunos que, são alunos excelentes. São alunos muito empenhados são de fato muito interessados e que têm tido – já temos obviamente esse retrato – uma média classificativa semelhante à média classificativa dos nossos alunos da Faculdade de Medicina oriundos de Portugal”, concluiu.
LUSA/HN
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