Ainda sem conclusões sobre se a pandemia da Covid-19 espoletou o aparecimento de doenças do foro mental em estadio grave, a diretora clínica do Hospital Magalhães Lemos, Rosa Encarnação, afirmou à Lusa ter existido um “decréscimo” no número de internamentos.
“Os doentes, inicialmente, não recorriam do mesmo modo ao serviço de urgência”, salientou, lembrando, no entanto, que em Portugal – “ao contrário de outros países no mundo” – o recurso ao contacto telefónico e outras tecnologias permitiram manter e seguir o estado dos doentes.
Apesar dos “condicionalismos” provocados pela pandemia da Covid-19 e mesmo em “fases de maior agravamento”, os profissionais de saúde do Hospital Magalhães Lemos mantiveram as visitas domiciliárias aos doentes com doença mental grave, como esquizofrenia ou demência, permitindo o acesso a medicação regular e aos técnicos.
Ciente de que o isolamento, o aumento da precariedade, o receio de procurar ajuda e a “baixa referenciação” por parte dos cuidados de saúde primários “podem de algum modo ter condicionado o diagnóstico mais precoce e o encaminhamento para estruturas especializadas para intervenção”, Rosa Encarnação salientou, no entanto, a importância de se terem “conclusões fidedignas”.
“Será importante haver estudos em que sejam comparados os números de aparecimento de doença mental grave antes da pandemia e atualmente, só assim as conclusões serão fidedignas”, referiu, acrescentando que de futuro aquela unidade de saúde terá mais dados.
Até lá, há já conclusões que se podem antecipar: “Durante este ano e com a retoma do funcionamento “normal” dos cuidados primários, em relação ao período homólogo, há mais procura de primeiras consultas”, revelou a diretora.
As razões carecem, contudo, de “dados claros e objetivos”, mas Rosa Encarnação salienta ser necessária “vigilância” para situações que são causadoras de uma pior saúde mental, física e social, como a ansiedade, perturbações do sono, depressão e abuso de substâncias.
“É necessária uma vigilância destas situações para que, se apresentarem critérios de patologia, sejam precocemente diagnosticadas e tratadas”, disse.
Considerando que a saúde mental em Portugal “sempre foi carenciada”, Rosa Encarnação defendeu existir ainda “muito a fazer”, nomeadamente na articulação entre os diferentes intervenientes: cuidados de saúde primários, unidades locais de saúde mental, departamentos de saúde mental e hospitais psiquiátricos.
“Este é ainda um grande caminho a percorrer, de modo que, cada doente, consoante as suas necessidades, esteja integrado na estrutura que melhor se adeque”, acrescentou.
LUSA/HN
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