No Dia Mundial da Luta Contra a Sida, assinalado esta quinta-feira, Cristina Sousa disse que a crise já está a fazer-se refletir na população que a Associação de Apoio a Pessoas com VIH/SIDA (Abraço) acompanha.
“O que nós sentimos é que tem aumentado o número da população sem-abrigo [com VIH], ou seja, estamos num limiar de pobreza muito maior face aos últimos tempos”, salientou.
Cristina Sousa contou que a Abraço sempre acompanhou a população sem-abrigo e conseguiu dar resposta, mas disse que agora estão a sentir “características um bocadinho diferentes” quando procuram apoio noutras instituições.
“As respostas falham a nível da sociedade em geral, o que significa que quase todas as instituições estão a dar resposta para esta população [sem-abrigo] e depois não são suficientes em termos de uma resposta imediata, para conseguirmos pôr de imediato as pessoas a comerem, a terem um alojamento para dormirem”, salientou.
Para a presidente da Abraço, esta é uma situação “muito preocupante” devido à vulnerabilidade destas pessoas.
“O nosso papel na sociedade é quando alguém nos procura neste limiar de pobreza conseguirmos encontrar uma resposta imediata e tirar as pessoas diretamente da rua e assegurar as necessidades básicas: comer, dormir e dar conforto, para garantir principalmente que pessoas como as que nós acompanhamos que tomam medicação e têm outras patologias associadas estejam estáveis”, defendeu.
Mas o que está a acontecer, disse Cristina Sousa, é quando vão procurar respostas para a população com VIH que recorre à Abraço encontram respostas para pessoas sem-abrigo, mas os parceiros dizem que já não conseguem responder porque, no geral, esta população aumentou.
“As respostas estão a ser insuficientes para esta população”, lamentou Cristina Sousa.
A crise económica também começa a ter impactos na própria associação, mas Cristina Sousa disse que como “dinheiro nunca é suficiente” para gerir a instituição já há “quase um treinamento” para governar “com pouco”.
“Mas começamos mensalmente a perceber o impacto que isto tem na associação ou que virá a ter na associação”, o que faz ponderar a realização de projetos que tencionavam desenvolver que, por enquanto, vão ficar parados.
Relativamente ao trabalho que a Abraço desenvolve, Cristina Sousa disse que não sentiram “grandes alterações” a nível da infeção por VIH por comparação aos últimos anos.
“Mantemos a mesma necessidade de rastrear o máximo possível da população em geral para conseguirmos detetar os diagnósticos tardios e fazer diagnósticos atempados para que a infeção não evolua”, salientou.
Segundo Cristina Sousa, as pessoas não estão devidamente informadas em relação a quem tem o vírus da imunodeficiência humana (VIH), que provoca a sida.
A responsável explicou que quem tem VIH se estiver em tratamento não transmite o vírus e considerou ser muito importante esta informação chegar à população, porque ainda continua a existir “um receio muito grande” em relação às pessoas que vivem com a doença.
“Quanto mais pessoas souberem que a infeção VIH, ainda que não tenha cura, é controlada e não é transmitida para quem está em tratamento, acreditamos que isso é um avanço gigante para acabar com a discriminação e o mal-estar de quem vive com a doença”, disse Cristina Sousa.
LUSA/HN
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