O estudo parte da premissa de que todos podemos ver os tremores que ocorrem em muitos doentes de Parkinson, mas questiona o que acontece quando o principal sintoma é a lentidão ou a ausência de movimentos.
A conclusão, conforme se lê numa síntese enviada à agência Lusa pela FMUP, é que “o que os olhos não captam pode agora ser apreendido e interpretado através de sons e da inteligência artificial”.
No estudo, publicado no Parkinsonism & Related Disorders, participaram 54 pessoas com doença de Parkinson e 28 pessoas sem a doença.
Os cientistas gravaram os sons escutados em tarefas motoras simples que os doentes repetem com frequência, como tocar com as mãos na mesa ou abrir e fechar os dedos.
Seguiu-se uma análise a esses sinais sonoros, com recurso a modelos de “machine learning”.
Foram tidas em consideração a velocidade e a amplitude dos movimentos, considerando hesitações e alterações nos movimentos executados.
No Dia Mundial de Conscientização da Doença de Parkinson que se assinala hoje, a FMUP destaca que o principal resultado deste estudo “consiste na criação de um algoritmo que deteta e analisa os sinais sonoros das pessoas com problemas motores, mais concretamente com lentidão de movimentos (bradicinesia), um dos principais sintomas da doença de Parkinson”.
“O que é interessante é que, em alguns doentes, pode ser mais fácil ouvir a bradicinésia, do que propriamente vê-la”, afirma Rui Araújo, professor da FMUP e médico especialista em neurologia, citado no resumo enviado à Lusa.
Os cientistas recorreram à tecnologia existente para demonstrar que é possível avaliar e classificar, com maior objetividade, os problemas motores característicos da doença de Parkinson, “evitando a subjetividade e a variabilidade resultantes da classificação com base apenas na imagem”.
“A medição quantitativa e mais objetiva da gravidade dos sintomas dos doentes poderá também contribuir para um melhor diagnóstico e poderá ajudar a monitorizar melhor os resultados dos tratamentos, na prática clínica”, é, ainda, descrito
De acordo com o grupo de cientistas, a ideia de ouvir os movimentos na doença de Parkinson surgiu na sequência de um caso de estudo que envolveu um violinista profissional que começou a reportar uma dificuldade crescente para tocar violino.
A análise dos sinais sonoros, neste caso, terá mostrado um decréscimo na intensidade e frequência dos movimentos ao longo do tempo, compatível com tremor e bradicinésia audíveis, pela primeira vez registado pelo mesmo grupo de investigadores.
Assim, uma das aplicações imediatas do modelo agora desenvolvido é o uso em ensaios clínicos, onde os doentes poderão ser avaliados num ambiente devidamente controlado.
O objetivo é que este tipo de modelos possa ser estandardizado e utilizado na clínica ou mesmo no domicílio dos doentes.
Além de Rui Araújo, participaram neste trabalho os investigadores dos Países Baixos Debbie de Graaf, Nienke M. de Vries, Bastiaan R. Bloem e Joanna IntHout (Center of Expertise for Parkinson & Movement Disorders), Madou Derksen e Koos Zwinderman (Amsterdam UMC).
O projeto teve financiamento do Dutch Research Council (NWO), Verily Life Sciences LLC e Dutch Ministry of Economic Affairs and Climate Policy.
LUSA/HN
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