Três denúncias por semana de homossexuais impedidos de doar sangue

26 de Janeiro 2021

A ILGA Portugal tem recebido cerca de três denúncias por semana de homens gays impedidos de doar sangue, como aconteceu com Bruno recentemente, apesar de o Instituto do Sangue garantir que não questiona a orientação sexual.

Com Bruno Gomes d’Almeida o caso aconteceu no sábado dia 23 de janeiro, quando, juntamente com várias centenas de pessoas, foi ao posto fixo de doação do Instituto português do Sangue e da Transplantação, em Lisboa, depois de o Instituto Português do Sangue da Transplantação (IPST) ter feito um apelo à dádiva de sangue.

Mesmo com pânico de agulhas, Bruno enfrentou três horas de espera numa fila, mais outra hora na fase de triagem até chegar a sua vez, onde foi confrontado com várias questões, nomeadamente se alguma vez tinha tido uma parceira trabalhadora do sexo ou se tinha tido várias parceiras no último ano.

À terceira pergunta, Bruno achou por bem corrigir a formulação da questão e assumir que tinha um parceiro, uma vez que estava incomodado com o facto de a pessoa que estava a fazer a triagem assumir que por ser homem tinha sexo com parceiras e não com parceiros.

“Então aí ele automaticamente respondeu: ‘Então não pode doar sangue’”, contou à Lusa, acrescentando que de seguida a pessoa ainda disse que “homens que fazem sexo com homens não podem doar sangue”.

Confrontado o IPST, a resposta é a de que o instituto “não questiona a orientação sexual dos seus potenciais dadores” e que “todo e qualquer cidadão [pode] candidatar-se a dar sangue, sem quaisquer diferenças de género ou orientação sexual”.

“No entanto, a dádiva será sempre condicionada por um conjunto de situações que se torna premente avaliar durante o exame médico que antecede a dádiva, nomeadamente as doenças que o candidato refere, as viagens, as infeções, os comportamentos e estilos de vida, com risco acrescido de transmissão de doenças infecciosas graves”, lê-se na resposta à Lusa.

O IPST garante que “os critérios de elegibilidade do dador de sangue assentam em pressupostos de proteção da saúde, do dador e do doente” e que “a avaliação da elegibilidade do dador é fundamental na garantia da qualidade e segurança do sangue a ser transfundido”, mas não respondeu o que acontece no caso de homens que prefiram omitir que são gays e que efetivamente conseguem doar sangue.

À Lusa, a ILGA (Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual, Trans e Intersexo) Portugal revelou que sempre que há um apelo à doação de sangue aumentam as denúncias de homens gays que se sentem discriminados por lhes ter sido recusada a possibilidade de doar sangue.

De acordo com Marta Ramos, diretora-executiva da ILGA Portugal, a associação tem contabilizado cerca de três queixas por semana, grande parte delas nas suas redes sociais, não sendo, no entanto, reclamações formais.

“Há estas restrições aos dadores por resquícios de homofobia em virtude da pandemia da SIDA e de acharem que havia comportamentos promíscuos por determinados grupos, no caso homens que têm sexo com homens”, recordou.

Segundo Marta Ramos, ao longo dos últimos anos as evidências científicas têm demonstrado que não há mais comportamentos de risco no grupo de homens homossexuais do que noutros e lembrou que “todas as dádivas de sangue são testadas”.

“Há neste momento uma necessidade absurda de clarificação daquilo que são critérios que estão a ser postos em prática que são profundamente obsoletos e discriminatórios”, defendeu.

Em 2016 tinha sido definida o fim da proibição das doações de sangue por parte de homens que têm sexo com homens através de uma norma da direção-geral da Saúde e estava programado que em 2019 fosse constituído um grupo de trabalho para avaliar o impacto da alteração do critério de suspensão do dador, no que diz respeito a homens que têm sexo com outros homens.

“O relatório técnico final com as conclusões deste grupo de trabalho será conhecido em breve”, refere o IPST, garantindo que “apoiará as recomendações apresentadas por este grupo de trabalho”.

O IPST disse ainda que “na sequência de reclamações apresentadas, procede internamente ao esclarecimento das decisões tomadas pelos profissionais”.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Psicólogos escolhem hoje novo bastonário

Mais de 21 mil psicólogos elegem hoje um novo bastonário, numas eleições que contam com três candidatos ao cargo desempenhado desde dezembro de 2016 por Francisco Miranda Rodrigues, que não concorre a um novo mandato.

Novos diagnósticos de VIH aumentam quase 12% na UE/EEE em 2023

 A taxa de novos diagnósticos de pessoas infetadas pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH) cresceu 11,8% de 2022 para 2023 na União Europeia/Espaço Económico Europeu, que inclui a Noruega, a Islândia e o Liechtenstein, indica um relatório divulgado hoje.

Idade da reforma sobe para 66 anos e nove meses em 2026

A idade da reforma deverá subir para os 66 anos e nove meses em 2026, um aumento de dois meses face ao valor que será praticado em 2025, segundo os cálculos com base nos dados provisórios divulgados hoje pelo INE.

Revolução no Diagnóstico e Tratamento da Apneia do Sono em Portugal

A Dra. Paula Gonçalves Pinto, da Unidade Local de Saúde de Santa Maria, concorreu à 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH), com um projeto inovador para o diagnóstico e tratamento da Síndrome de Apneia Hipopneia do Sono (SAHS). O projeto “Innobics-SAHS” visa revolucionar a abordagem atual, reduzindo significativamente as listas de espera e melhorando a eficiência do processo através da integração de cuidados de saúde primários e hospitalares, suportada por uma plataforma digital. Esta iniciativa promete não só melhorar a qualidade de vida dos doentes, mas também otimizar os recursos do sistema de saúde

Projeto IDE: Inclusão e Capacitação na Gestão da Diabetes Tipo 1 nas Escolas

A Dra. Ilka Rosa, Médica da Unidade de Saúde Pública do Baixo Vouga, apresentou o “Projeto IDE – Projeto de Inclusão da Diabetes tipo 1 na Escola” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa visa melhorar a integração e o acompanhamento de crianças e jovens com diabetes tipo 1 no ambiente escolar, através de formação e articulação entre profissionais de saúde, comunidade educativa e famílias

MAIS LIDAS

Share This