“Estamos todos a desconfinar, todos os países estão a fazer o mesmo, estas variantes continuam a circular e novas variantes surgirão, potencialmente tão ou mais gravosas do que aquelas com as quais nós nos estamos a deparar, porque a população em todo o mundo vai ganhando imunidade”, afirmou o cientista do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA), na reunião no Infarmed, em Lisboa.
Segundo João Paulo Gomes, “é normal” os vírus continuarem a adaptar-se e que as mutações que surjam sejam “melhor adaptadas” para lidar com o sistema imunitário das pessoas.
“Isto, naturalmente que é preocupante e, portanto, sugiro uma atenção redobrada durante todo o processo de desconfinamento e nesta próxima era, para com os países que estejam um pouco mais desleixados ao nível de monitorização de variantes de interesse clínico e epidemiológico”, nomeadamente no controlo dos aeroportos e das fronteiras terrestres.
Lembrou um estudo recente do INSA que mostra o número de introduções que ocorreram até ao bloqueio dos aeroportos, das fronteiras terrestres, ao confinamento total em março de 2020.
“Identificamos a existência de cerca de 277 introduções de SARS-CoV-2 no nosso país, que causaram o arranque da pandemia”, disse, adiantando que o Reino Unido, seguido de Espanha, França e Itália foram os “principais causadores dessas introduções”.
As questões turísticas e a “forte competente” da imigração estarão na base destas introduções, disse, alertando que esta situação “vai voltar a acontecer” e para o impacto que uma variante pode ter.
Lembrou, a este propósito, que a Itália foi o país com maior impacto no arranque da epidemia em Portugal: “com uma única origem de três ou quatro pessoas que vieram infetadas num voo que terá chegado a Portugal perto do fim de fevereiro, vindo de uma feira industrial na zona de Milão, terão introduzido na zona Centro e Norte do país uma variante” que se terá disseminado fortemente entre 14 março e 09 de abril e terá causado cerca de 4.000 casos em Portugal.
“A saúde pública vai ter que estar particularmente atenta porque tal como atuou muito bem nesta altura, confinou e bloqueou completamente a disseminação desta variante para o resto do país nós vamos ter que lidar com a introdução das variantes genéticas que continuam a circular nos outros países, e cá também, não podemos bloquear completamente a entrada dessas variantes”, sublinhou.
Mas, defendeu, é necessário eventualmente “atuar cirurgicamente” em determinados concelhos se a saúde pública verificar uma disseminação massiva concentrada numa determinada região e num período espaço de tempo, sob pena dela se disseminar pelo país inteiro.
Aludindo à testagem massiva, afirmou que passará essencialmente pela utilização de testes rápidos, que não permitem a monitorização das variantes do SARS-CoV-2.
“Isto contraria, em teoria pelo menos, as recomendações das autoridades de saúde internacionais e as fortes recomendações da Comissão Europeia, adiantou.
No entanto, ressalvou, “a entidade que tratará da logística e da implementação dos testes rápidos está perfeitamente alerta relativamente a esta situação e não deixará cair os números de testagem em termos de utilização do [teste] RT-PCR e tentará fazer com que o próprio RT-PCR aumente também o seu número de forma a que Portugal possa continuar a fazer uma atempada pesquisa das variantes e, portanto, vai naturalmente tudo correr bem”.
LUSA/HN
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