19/10/2022
O debate “Viver com Dor” contou com a participação de duas especialistas, a psicóloga clínica do Centro Multidisciplinar de Dor do Hospital Garcia da Orta, Cristina Catana, a Presidente da Associação Portuguesa para o Estudo da Dor, Ana Pedro e com o testemunho do campeão olímpico de triplo salto, Nelson Évora.
A abertura da sessão ficou marcada pelas palavras do presidente da Fundação Grünenthal, Walter Osswald, que sublinhou o papel da ciência e da investigação na promoção da qualidade de vida dos doentes.

Walter Osswald, Presidente da Fundação Grünenthal
Walter Osswald destacou, assim, o papel da Fundação Grünenthal na divulgação e distinção do trabalho científico e das boas práticas desenvolvidas no âmbito da Medicina da Dor.
Apesar de a dor crónica ter sido reconhecida, em 2001, pela European Federation of Pain, não apenas como um sintoma por si só, mas sim como uma doença, esta continua a ser negligenciada e alvo de estigma por parte da sociedade.

Isabel de Santiago, Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa
Na sessão, moderada por Isabel Santiago da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, foi feito um paralelo entre o famoso quadro do pintor Edvard Munch “O grito” e o sentimento de angústia, desespero, ansiedade e medo sentido todos os dias por quem vive na pele a dor crónica.
A Presidente da Associação Portuguesa para o Estudo da Dor explicou que muitos doentes veem a sua vida condicionada pela doença, chegando a ser impedidos de trabalhar ou participar em reuniões familiares.

Ana Pedro, Presidente da Associação Portuguesa para o Estudo da Dor
Questionada sobre as principais queixas dos doentes, Ana Pedro admitiu que “as principais preocupações dos doentes têm a ver com a acessibilidade aos cuidados de saúde e aos tratamentos diferenciados. Os doentes também se queixam da falta de abertura das empresas para fazer o ajuste às suas limitações.”
Na mesma linha de pensamento, a psicóloga Cristina Catana sublinhou que “viver com dor em Portugal é muito difícil… ainda é muito dicotomizada. Portanto, se não é provada através de exames clínicos, a dor fica muito silenciada e pouco compreendida”.

Cristina Catana, Centro Multidisciplinar de Dor, Hospital Garcia da Orta
A especialista fala numa “pandemia invisível” que precisa de “mais serviços no Serviço Nacional de Saúde” e de “mais formação e sensibilização na comunidade médica”.
Cristina Catana alertou que a dor crónica provoca um forte sentimento de solidão e exclusão. “O quadro de Edvard Munch ilustra os gritos silenciosos da pessoa que vive com dor. A incapacidade provocada pela doença é dramática… A pessoa é obrigada a fazer o luto do padrão da sua vida, é obrigada a reajustar o conhecimento sobre o seu corpo e é obrigada a viver para além dos limites”, disse.
Escutar quem viveu na pele as limitações da dor foi um dos momentos que marcou a sessão. O campeão olímpico de triplo salto, Nelson Évora, foi o convidado especial do debate “Viver com Dor, Viver melhor” que partilhou como foi lidar com um dos principais inimigos dos atletas – a dor.
“Tive uma fratura de stress em 2009, que se arrastou até 2014. Tive momentos, neste período, em que pensei que nunca ia deixar de sentir essa dor. Tinha de lidar com a angústia de chegar ao treino, fazer tudo o que os meus colegas faziam e fazer um triplo salto em que iria sentir uma dor horrível. Tinha uma fração de segundos em que tinha de decidir se continuava ou se abortava o salto. Fazemos milhares de repetições e a diferença para o ‘ouro’ é, em mil saltos, abortar o mínimo de vezes possível”, revelou o atleta.

Nelson Évora, campeão olímpico de triplo salto
Apesar de afirmar que a dor é aquilo que os atletas mais temem, Nelson Évora realçou o papel dos fisioterapêuticas, médicos, psicólogos e investigadores da Medicina da Dor. “São os verdadeiros heróis destes país”. “Nós é que tornamos físico o trabalho da equipa multidisciplinar. Não o faço sozinho e tenho esta equipa responsável por me ajudar a entrar numa pista de atletismo e, seja qual for a idade, seja uma criança feliz por poder saltar sem dor. Cada medalha é uma montanha enorme que temos de escalar todos os dias”.
Apesar de garantir ser “um vencedor da dor”, o campeão olímpico deixa um apelo à comunidade médica. “Nunca devemos negligenciar a dor. É preciso que seja tratada de forma atempada”.
No final do debate foi atribuído o Prémio Grünenthal Dor 2021 a Mónica Sousa pelo estudo “Sensory Neurons have an axon initial segment that initiates spontaneous activity in neuropathic pain”. Neste trabalho identificou-se um novo compartimento nos axónios sensitivos – o segmento inicial do axónio – que demonstrou ser de grande importância no mecanismo de iniciação de atividade espontânea no contexto de dor neuropática. Com esta descoberta definiu-se um novo alvo terapêutico a considerar no tratamento da dor neuropática.

Mónica Sousa, vencedora do Prémio Grünenthal Dor 2021
A Bolsa para Jovens Investigadores em Dor 2022 foi atribuída a Diana Rodrigues com o projeto intitulado: “The rostral ventromedial medulla as a key target of the maladaptive response to chronic inflammatory pain”. Este projeto tem como principal foco o papel da modulação descendente na cronificação da dor em doentes com osteoartrite.

Diana Rodrigues, vencedora da Bolsa para Jovens Investigadores em Dor 2022
HN/Vaishaly Camões
22/06/2022
Em comunicado, a CIMAA revelou hoje que o respetivo presidente, Hugo Hilário, já assinou o protocolo de colaboração com o programa Cidadãos [email protected] para a implementação do projeto, intitulado “Diálogos – Saúde Mental de Proximidade”.
A iniciativa destina-se a quem se encontre em sofrimento psicológico, padeça de crises de ansiedade e pânico, ideação suicida, depressão, alterações de perceção ou do pensamento, dificuldades relacionais e de ocupação, alterações de sono ou de humor, irritabilidade fácil e/ou desregulação emocional.
Segundo a CIMAA, para estas pessoas, em todo o território do distrito de Portalegre, “a ajuda vai estar à distância de um telefonema”, para o número 911 541 412.
“Um membro da equipa técnica irá ao encontro do utente, seja no domicílio ou noutro lugar que lhe seja conveniente”, assegurou.
O presidente da comunidade intermunicipal realçou hoje que “é evidente” a importância do protocolo, já que vai permitir operacionalizar o projeto.
“Quando falamos da garantia de uma boa qualidade de vida para todas as pessoas no Alto Alentejo, e falamos muitas vezes, temos de falar também da oferta de serviços de excelência para a defesa da saúde mental e tratamento de problemas do foro psicológico que possam existir nas nossas populações”, disse.
Hugo Hilário, também presidente da Câmara de Ponte de Sor, acrescentou: “Não queremos deixar ninguém para trás e a assinatura deste protocolo dá-nos essa segurança no campo da saúde mental”.
O projeto é baseado no sistema de tratamento e organização de serviços de saúde mental Diálogo Aberto, surgido na Finlândia, no início da década de 80 do século passado.
“Esta abordagem, que tem sido sistematicamente investigada nas últimas três décadas, tem apresentado resultados surpreendentes no que diz respeito à atenuação de sintomas, diminuição de internamentos e medicação e redução de desemprego e atribuição de subsídios por invalidez”, frisou a CIMAA.
A particularidade desta abordagem reside nos seus “métodos revolucionários”, que passam pelo “trabalho conjunto com a rede familiar e social de suporte” ou “o apoio em crises psiquiátricas”.
Além disso, aposta na “recuperação psicossocial e socioprofissional e [na] capacitação e formação de profissionais e de uma rede de suporte competente”, disse.
Cinco profissionais de saúde mental, com formação pós-graduada em sistema de diálogo aberto, terapia familiar e competências relacionais, integram o projeto.
“Diálogos – Saúde Mental de Proximidade” é financiado pelo programa Cidadãos [email protected] e EEA Grants, sendo gerido pela Fundação Calouste Gulbenkian, em consórcio com a Fundação Bissaya Barreto.
LUSA/HN
21/06/2022
O documento, da autoria do Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS), aponta diversos estudos que concluem que os governos deverão investir em áreas críticas como a capacidade de adaptação e de aprendizagem, de alinhamento dos serviços públicos com as necessidades dos cidadãos, de governação de sistemas de produção resilientes e na capacidade de gerir dados e plataformas digitais.
O Relatório de Primavera 2022 – “E agora?”, que hoje é apresentado na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, e que analisa a governação do sistema de saúde português, lembra a redução na atividade assistencial, mas sublinha o esforço dos Cuidados de Saúde Primários (CSP).
“Os CSP, apesar de algumas quebras, evidenciaram um esforço notável na procura de formas alternativas de resposta aos seus utilizadores, a par com o seguimento de doentes com Covid-19 e de todo o trabalho que foi necessário desenvolver no processo de vacinação”, sublinha.
O OPSS recorda a redução nas consultas presenciais nos CSP no período 2019/2020 e o aumento de 14,3% em 2020/2021, mas sublinha que este não foi suficiente para recuperar a atividade pré-pandemia, “uma vez que se regista uma redução de 29,7% entre 2019/2021”.
Os cuidados ao domicílio seguem a mesma tendência, que é alterada nas consultas não presenciais, que mais do que duplicaram no período 2019/2020, continuando a aumentar em 2020/2021, refere o documento, que destaca o facto de o serviços terem procurado formas alternativas de dar resposta aos utentes.
Nas consultas médicas hospitalares, sublinha que a atividade anterior à pandemia ainda não foi completamente recuperada, tendência que se repete para as primeiras consultas.
A mesma tendência de queda – refere o relatório – é encontrada nos Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica (MCDT) entre 2019/2020.
No período 2020/2021, o documento aponta para um aumento total de 39% dos atos aceites de MCDT, referindo que o aumento é generalizado em praticamente todas as áreas, com exceção da neurofisiologia (redução de 29,7%).
Em relação aos níveis de atividade, o relatório defende que em Portugal se deve ponderar se no pós-pandemia se pretende repor em todas as linhas os níveis verificados na pré-pandemia.
“Por exemplo, tendo em conta as queixas dos hospitais relativamente ao excesso de procura nas urgências antes da pandemia, sugerindo que os problemas poderiam e deveriam ser resolvidos noutras áreas de cuidados, nomeadamente nos CSP, esta reposição poderá ser equacionada e estendida a outras áreas de cuidados”, sugere.
Diz ainda que a análise da redução global na utilização de serviços de saúde e os níveis que se pretendem repor, bem como o aumento das necessidades não satisfeitas em saúde, devem ser analisadas em conjunto para ajudar na definição de estratégias coerentes que respondam às necessidades identificadas e que permitam melhorar a saúde de forma eficiente.
Sobre o recurso à telemedicina e outras variantes da telessaúde – alternativas encontradas para responder à necessidade de respostas alternativas aos utentes -, o Relatório de Primavera defende que deve ser garantida “a sustentabilidade dos respetivos investimentos necessários nesta área (infraestruturas, tecnológicos, humanos, formação, etc.) e o sistema de incentivos para a manutenção e até extensão das boas práticas comprovadas”
No entanto, alerta, a adoção da telessaúde “deverá ser equacionada para perceber se responde integralmente às necessidades da procura que se verificaram nos diversos níveis de cuidados, não podendo ser adotada como uma panaceia para todas as atividades de saúde”.
O Observatório Português dos Sistemas de Saúde é constituído por uma rede de investigadores e instituições académicas dedicadas ao estudo dos sistemas de saúde.
LUSA/HN
21/06/2022
À margem da sessão de encerramento da conferência “Dez anos do Conselho das Finanças Públicas”, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa foi questionado pelos jornalistas sobre os problemas que se têm registado nas urgências de vários hospitais e se a ministra da Saúde teria condições para continuar.
O chefe de Estado repetiu, por várias vezes, que “o problema não é da pessoa A, da pessoa B, ou da pessoa C” e “nem sequer de um Governo, deste ou de outros”.
“O problema de fundo é estrutural (…) Se quiser é um bocadinho de haver políticas diferentes entre governos, isto exige uma certa estabilidade de políticas”, defendeu.
Marcelo Rebelo de Sousa lembrou que o Governo não está em funções sequer há três meses e defendeu que, numa altura em que a pandemia da Covid-19 se estará a resolver, é o momento de “fazer o balanço do SNS” e, “numa visão de conjunto”, “repensá-lo”, avaliar quais os meios e definir o que é prioritário.
“Outra maneira é: vamos apagando os fogos, apaga-se esta semana um fogo, daqui a 15 dias apaga-se outro fogo. O grande problema disso é que acaba por se apagar fogos setoriais pontuais, e a questão de fundo vai sendo empurrada com a barriga para a frente”, afirmou.
O chefe de Estado dividiu os problemas na saúde entre os “muitos urgentes” – em que inseriu as recentes falhas nos serviços de urgência e obstetrícia -, “os urgentes”, como a preparação para o verão, e “os estruturais”, que exigem respostas de fundo, ao nível do investimento, da gestão e dos recursos.
“Essa visão de conjunto é bom que a sociedade a tenha para responder a perguntas como: os profissionais que temos são suficientes ou não são, em geral? Há áreas em que são e outras que não são? Há problemas de gestão, ou seja, os recursos são suficientes, mas geridos de forma desigual?”, elencou.
Para o chefe de Estado, a estas perguntas devem ser dadas respostas “com a perspetiva de conjunto” para não se correr o risco de “remendar de um lado, e depois de outro e depois de outro”.
“No fim da pandemia, esta é a altura para a olhar para o conjunto e ver quais os problemas que são verdadeiramente fundamentais”, defendeu.
O Presidente da República considerou ainda que o SNS tem “enfrentado pressões que nunca tinha enfrentado”, numa sociedade “mais envelhecida” e “muito diferente da sociedade jovem do tempo em que nasceu o SNS”.
“Há novos desafios e perante novos desafios reajustar o SNS significa repensá-lo como um todo”, considerou.
Para o chefe de Estado, o Plano de Recuperação e Resiliência e o pacote de fundos comunitários permitem, até 2027, “alguma folga” que permite investimentos na saúde.
“A questão é saber o que é mesmo indispensável fazer”, apontou.
LUSA/HN
11/03/2022
Na sessão de abertura de uma conferência da Ordem dos Economistas, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa fez um discurso centrado em “três palavras”, que durou oito minutos: “Ambição, resistência e mobilização nacional”.
“Ambição nas metas, ambição de crescer mais, ambição de crescer mais duradouramente, ambição de mudar o que é preciso mudar de fundo para se crescer mais e mais duradouramente, ambição de partilhar mais e melhor o fruto do crescimento, ambição de crescer mais e mais duradouramente garantindo que o crescimento é desenvolvimento, porque com justiça social e porque com ambiental”, pediu.
O Presidente da República afirmou que “Portugal não acaba em março, nem em abril, nem em maio, nem em novembro, nem em dezembro de 2022 ou em 2023” e que “há mais Portugal para além destes tempos tão exigentes e mesmo dramáticos”.
“Que os encaremos com coragem e sem tibiezas, que os encaremos, porém, a pensar no que sobrará – e será muito, e será essencial – para além dele, sem nunca perdermos de vista o objetivo fundamental deste instante: que é o de, com firmeza, clareza e serenidade, abreviar a guerra”, apelou.
Marcelo Rebelo de Sousa identificou um “choque de efeitos” no “embate imediato” da invasão russa da Ucrânia, “a somarem-se aos sobrantes da pandemia” de Covid-19, “a avolumarem inflação, a pressionarem para um difuso sentido de estagnação relativa, a descompensarem pessoas e a desestruturarem instituições, comunidades, a própria ordem internacional”.
No seu entender, é preciso resistir ao “choque de efeitos”, mas de modo a que “a ambição não tarde mais, não perca o seu tempo, não seja novamente um sonho frustrado, uma aspiração adiada”.
O Presidente da República exortou à “mobilização nacional para resistir no mais urgente do urgente e para ambicionar o mais necessário do necessário”, capaz de “aguentar mais estas provações” e “acolher mais estes injustiçados pelo destino”, mas sem “desistir do futuro por causa dos choques do presente”.
Há que “ver para além desses choques, dessas incertezas, dessas imprevisibilidades” e enfrentar esta conjuntura “nunca trocando o médio longo prazo pelo dia a dia, sem nunca deixar de fazer o melhor no dia a dia para ser possível o médio e o longo prazo”, reforçou.
LUSA/HN