Sara Quaresma: Mulheres esquecem frequentemente a importância da hidratação

Sara Quaresma: Mulheres esquecem frequentemente a importância da hidratação

“Na sua maioria, as mulheres usam um produto específico para a  higiene íntima mas, frequentemente, esquecem-se da importância da hidratação”, alerta a farmacêutica Sara Quaresma, diretora-técnica da Farmácia Alagoa. Contudo, este é um passo essencial, “particularmente no período da menopausa”.

HealthNews (HN) – O farmacêutico é um profissional de saúde muito próximo da população e, designadamente, das mulheres. Considera que esse é um fator importante quando precisam de falar com alguém sobre a sua higiene íntima?

Sara Quaresma (SQ) – O relacionamento de proximidade que temos com os utentes torna muito mais fácil, no dia-a-dia, pedirem-nos ajuda e aconselhamento no que diz respeito à higiene íntima. Na maioria das vezes já  pensaram num produto específico mas são muito sensíveis ao aconselhamento do farmacêutico.

HN – É fácil para o farmacêutico distinguir entre problemas que podem ser resolvidos na farmácia e aqueles que requerem a referenciação para o médico?

SQ – É sempre necessário fazer uma avaliação da utente que temos à nossa frente. É preciso ter atenção a situações particulares como a gravidez, amamentação e menopausa, à duração dos sinais e sintomas, verificar se a mulher tem doenças concomitantes, os medicamentos que toma e despistar eventuais situações mais graves que, se não forem possíveis de resolver pelo farmacêutico, terão de ser encaminhadas para o médico. 

HN – Quais são os problemas mais comuns que podem ser tratados pelo farmacêutico?

SQ – A candidíase e as vulvo-vaginites são as situações mais comuns e para as quais as mulheres solicitam o nosso aconselhamento. Normalmente, manifestam-se em situações de prurido, alteração do muco vaginal e/ou odor. 

HN – Quais os seus conselhos para uma correta higiene e hidratação da pele?

SQ – Na sua maioria, as mulheres usam um produto específico para a higiene íntimas mas, frequentemente, esquecem-se da importância da hidratação. O meu conselho passa por fazer a higiene durante aproximadamente dois ou três minutos, uma a duas vezes por dia, com produtos adequados porque a zona genital da mulher tem um pH e uma morfologia diferente da restante pele do corpo.

É muito importante que a lavagem seja efetuada da frente para trás porque sabemos que a zona perianal pode contaminar facilmente a zona vaginal e provocar uma infeção.

Devem ser utilizados produtos hipoalergénicos, suaves e adequados a cada fase da vida da mulher: infância, puberdade, menstruação, gravidez e menopausa. 

É importante desmistificar a ideia do sabão ou dos sabonetes porque estes produtos têm um pH mais alcalino e são mais suscetíveis de contaminação, pelo facto de poderem ser utilizados por várias pessoas. O ideal é utilizar produtos líquidos e com um pH adequado a cada fase da vida da mulher.

Após a higiene, a zona vaginal deve ser seca delicadamente, sem friccionar. É aconselhável, ainda, a aplicação de um produto hidratante compatível com a mucosa vaginal. Este passo é fulcral no período da menopausa porque a pele, devido às alterações hormonais, tem tendência para se tornar mais seca. 

HN – Existem grandes inovações nesta área em termos de produtos?

Quais as mais interessantes, na sua perspetiva?SQ – Na minha opinião, a inovação mais interessante diz respeito aos produtos de higiene que possuem prebióticos e probióticos na sua constituição e que ajudam a manter a flora vaginal. Existem, por outro lado, suplementos orais e vaginais também dirigidos à manutenção de uma flora vaginal adequada e que ajudam a prevenir as infeções vaginais.

Rafaela Miranda: “Para uma boa higiene íntima é importante que as mulheres conheçam a sua anatomia”

Rafaela Miranda: “Para uma boa higiene íntima é importante que as mulheres conheçam a sua anatomia”

Ainda existe algum pudor das mulheres em falarem sobre higiene íntima. Rafaela Miranda, interna de Medicina Geral e Familiar, chama a atenção para a necessidade de as mulheres conhecerem a sua própria anatomia, a importância da manutenção do pH vaginal e da hidratação para um dia-a-dia saudável.  

HealthNews (HN) – A higiene íntima é um tema que ocupa uma grande parte da rotina diária das mulheres mas, para algumas, continua a ser um tema tabu. Porquê?

Rafaela Miranda (RM) – Não lhe chamaria “tabu” mas, de facto, ainda existe algum pudor das mulheres em falarem sobre higiene íntima e abordarem este assunto na consulta. Esta circunstância deriva de muitos fatores, desde a educação conservadora às crenças enraizadas. Por outro lado, o facto de as mulheres manifestarem esse pudor, faz com que os homens também o tenham. Não falam uns com os outros, geram-se constrangimentos e inibição mas, de facto, este é um assunto muito importante para o quotidiano de qualquer mulher.

Para as mulheres fazerem uma boa higiene e terem uma relação saudável com o seu corpo, é importante que conheçam a sua anatomia. Têm, por exemplo, uma incidência muito maior de infeções do tracto urinário em comparação com os homens, justamente porque a distância entre a uretra e a vagina, e entre a vagina e o ânus, é muito menor do que no sexo masculino. Além disso, na mulher, a uretra tem um comprimento menor, o que facilita a ocorrência de infeções.

HN – Quais são as queixas que mais ouve na consulta?

RM – Temos as queixas do foro sexual e as infeções vulvovaginais. Estas podem ser causadas por vírus, fungos ou bactérias. É importante sabermos que o pH vaginal varia ao longo da vida da mulher e ao longo do ciclo menstrual. A influência é hormonal. 

O ideal seria manter um pH ácido, entre 4 e 5. Qualquer perda deste equilíbrio provoca alterações ao nível da flora vaginal, o que favorece o aparecimento de infeções. 

HN – Quais são os cuidados a ter durante a menstruação, depois de manter relações sexuais ou durante tratamentos ginecológicos?

RM – Há cuidados gerais que devemos adotar sempre: higiene da região anogenital, uma a três vezes por dia, dependendo do clima, do biótipo da mulher, da atividade física e de doenças prévias que possam existir. 

O tempo de higiene nunca deve ser superior a dois ou três minutos para não  provocar secagem excessiva, com abrasão.

A região anogenital deve ser lavada suavemente e devemos escolher sempre um gel com pH ácido. Para evitar as infeções vulvovaginais, como as infeções do tracto urinário, é importante lavar e secar sempre de frente para trás, para não trazer as bactérias em direção à vulva.  

HN – Que fatores favorecem o aparecimento de infeções?

RM – Podem ser muitos. Desde o uso de produtos de higiene inadequados  – como, por exemplo, produtos de supermercado que, frequentemente, nem têm a indicação do pH, podendo ser mais alcalino -, duches vaginais, lavagens excessivas ou intensas, o uso do penso higiénico diário, roupas justas e apertadas… 

HN – Porque motivo é tão importante o equilíbrio da flora vaginal?

RM – A flora vaginal, ou a microflora genital, é constituída por um conjunto de microorganismos que se encontram na vagina. São esses microorganismos que contribuem para manter o pH em níveis ideais e nos protegem. Contudo, podem tornar-se nocivos quando existe uma proliferação de determinado microorganismo, bactéria ou fungo. 

HN – Quais os fatores que se devem privilegiar no momento de escolher um produto específico para a higiene íntima?

RM – Em primeiro lugar, os sabonetes em barra não devem ser usados. Não só para a higiene desta região mas também da pele em geral. Em casa, acabam por ser compartilhados por outras pessoas e há sempre o risco de contaminação. 

Por outro lado, os sabonetes têm um pH mais alcalino, que os tornam desaconselhados para a zona genital. Vão promover secura, a diminuição da acidez de que falámos, e a desregulação da flora vaginal.

Os sprays, perfumes, talcos, toalhitas, também não devem ser usados porque o objetivo é manter o pH nos valores ideiais.

A hidratação é uma etapa por vezes negligenciada – sobretudo nas mulheres após a menopausa – mas, da mesma forma que existem lubrificantes vaginais, também existem hidratantes vaginais adequados, que vão manter o pH ideal e reduzir a secura.