África do Sul quer adaptar tecnologia mRNA para combater VIH, tuberculose e malária

África do Sul quer adaptar tecnologia mRNA para combater VIH, tuberculose e malária

“A tecnologia mRNA não é apenas para a covid-19, esperamos que possa ser adaptada para nos ajudar na luta contra o VIH [Vírus da Imunodeficiência Humana], a tuberculose e a malária, e é por isso que estamos a investir fortemente, ao lado de parceiros internacionais, nesta iniciativa”, declarou Blade Nzimande.

O governante sul-africano salientou que “a covid-19 demonstrou a importância de se investir na ciência, tecnologia e inovação”, sublinhando que “a preparação para futuras pandemias é fundamental”, no final de uma visita hoje a vários parceiros do setor público e privado que participam no desenvolvimento do centro global de transferência de tecnologia de vacinas mRNA da Organização Mundial da Saúde (OMS), na Cidade do Cabo.

“O ‘hub’ global mRNA da OMS é um alicerce fundamental para garantir que a África do Sul e todo o continente tenham a capacidade de produção essencial para a distribuição equitativa de vacinas”, frisou o ministro sul-africano.

Nesse sentido, a África do Sul e a França pretendem “diversificar” e “acelerar” a produção de vacinas no continente africano, através de um consórcio que inclui o Banco de Patentes de Medicamentos, o instituto Biovac, a Afrigen Biologics & Vaccines, o Departamento de Ciência e Inovação da África do Sul, o Conselho de Pesquisa Médica (SAMRC), uma rede de universidades e os Centros Africanos de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), segundo o Governo sul-africano.

“O objetivo central é desenvolver um local de formação onde a tecnologia mRNA seja desenvolvida à escala necessária para a produção em massa de vacinas e, posteriormente, para que esse pacote completo de tecnologia seja transferível para vários recetores em países de baixo e médio rendimento”, adiantou o Governo de Pretória.

Na ótica do ministro da Saúde da África do Sul, Joe Phaahla, o novo ‘hub’ da OMS, na Cidade do Cabo, “não é apenas para a África do Sul, oferece um balcão único para os países de baixo e médio rendimento em todo o mundo beneficiarem da tecnologia transferida, juntamente com o ‘know-how’, para que também possam produzir vacinas mRNA, que é fundamental se quisermos acabar com a desigualdade nas vacinas”, sublinhou.

“A pandemia destacou a necessidade de aumentar a produção local de vacinas globalmente, especialmente em países de baixo e médio rendimento”, afirmou hoje o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, de visita à Cidade do Cabo.

“O centro global mRNA da OMS é um importante passo nessa direção, partilhando a tecnologia e aproveitando a capacidade e o conhecimento científico que já existe na África do Sul”, salientou.

Tedros Adhanom Ghebreyesus, que iniciou hoje uma visita de dois dias à Cidade do Cabo, elogiou anteriormente a capacidade científica da África do Sul no desenvolvimento do projeto de transferência de tecnologia de vacinas mRNA.

Além do diretor-geral da OMS, a delegação integra ainda a ministra belga da Cooperação para o Desenvolvimento e Política Urbana, Meryame Kitir.

A visita à África do Sul também inclui o Centro de Resposta Epidemiológica e Inovação, que se tem destacado a nível mundial na sequenciação genómica viral, reuniões com grupos da sociedade civil e visitas a centros de vacinação na Cidade do Cabo.

LUSA/HN

Estudos sugerem que vacinas mRNA não causam complicações durante a gravidez

Estudos sugerem que vacinas mRNA não causam complicações durante a gravidez

Em comunicado acessível na página da Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed), a EMA refere que no seguimento da realização de uma análise detalhada de vários estudos, que envolveram cerca de 65 mil gestações em diferentes estágios, foi constatado “não haver nenhum sinal de aumento do risco de complicações na gravidez, abortos espontâneos, partos prematuros ou efeitos adversos nos fetos após a vacinação”.

“Apesar de algumas limitações nos dados, os resultados parecem consistentes entre os estudos que analisam esses resultados”, refere a EMA.

Os estudos realizados indicam também que os efeitos secundários mais comuns das vacinas nas grávidas coincidem com os da população em geral vacinada, que incluem dor na local da injeção, cansaço, dor de cabeça, inchaço no local ou dores musculares.

Estes efeitos são geralmente leves ou moderados e melhoram alguns dias após a vacinação.

“Dado que até agora a gravidez tem sido associada a um risco maior de Covid-19 grave, particularmente no segundo e terceiro trimestres, as pessoas que estão grávidas ou podem engravidar num futuro próximo são incentivadas a vacinarem-se”, é referido na nota.

As informações referem-se a vacinas de mRNA e, por isso, a EMA deverá divulgar dados de outras vacinas Covid-19 autorizadas à medida que estiverem disponíveis.

LUSA/HN

Estudo aponta que vacinas de mRNA conferem “proteção substancial” dos idosos

Estudo aponta que vacinas de mRNA conferem “proteção substancial” dos idosos

A investigação desenvolvida pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) apurou que, nas pessoas entre os 65 e os 79 anos, a efetividade da vacina contra internamentos foi de 94%, percentagem que baixa para os 82% nos idosos a partir dos 80 anos.

Já em relação aos óbitos associados à Covid-19, os investigadores estimaram uma efetividade das vacinas que usam a plataforma RNA mensageiro de 96% para a faixa etária dos 65 aos 79 anos e de 81% para os maiores de 80 anos, adiantou o INSA em comunicado, que contou com a colaboração dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) e da Direção-Geral da Saúde (DGS) na realização do estudo.

Estes dados, segundo o instituto, revelam que as “vacinas conferem uma proteção substancial contra internamentos e óbitos relacionados com o vírus SARS-CoV-2 após o esquema vacinal completo”.

O estudo permitiu ainda testar a redução da eficácia da vacina até três meses depois da toma da segunda dose no grupo de pessoas com 80 ou mais anos, não tendo os resultados “mostrado evidência de redução da efetividade destas vacinas contra internamentos e óbitos associados à Covid-19 durante este período de tempo”, avançou o INSA.

Realizado entre fevereiro e agosto, o estudo abrangeu cerca de 1,9 milhões de pessoas com 65 ou mais anos, através do cruzamento e análise dos dados registados em oito sistemas de informação do Serviço Nacional de Saúde.

Das quatro vacinas que estão a ser administradas em Portugal, as da Pfizer e da Moderna, de duas doses, utilizam esta nova tecnologia assente numa molécula denominada RNA mensageiro.

Um outro estudo do INSA, divulgado a 24 de agosto, sugeriu que estas vacinas são menos eficazes a prevenir a infeção pela variante Delta do coronavírus SARS-CoV-2.

Este trabalho conclui que há “probabilidade significativamente superior de infeção pela variante Delta em pessoas vacinadas”, sensivelmente “o dobro do risco de infeção pela variante Alpha”.

Em Portugal, desde março de 2020, morreram 17.743 pessoas e foram contabilizados 1.037.927  casos de infeção confirmados, segundo dados da Direção-Geral da Saúde.

A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China, e atualmente com variantes identificadas em países como o Reino Unido, Índia, África do Sul, Brasil ou Peru.

LUSA/HN

Fundadora da BioNTech diz que vacinas são seguras e serão usadas contra o cancro

Fundadora da BioNTech diz que vacinas são seguras e serão usadas contra o cancro

Ozlem Tureci, que fundou a farmacêutica BioNTech na Alemanha com o seu marido, disse, em entrevista à agência Associated Press, que a tecnologia de mRNA (RNA mensageiro) utilizada nas vacinas estava a ser investigada há duas décadas, para ajudar o sistema imunitário a combater tumores.

Até que os dois cientistas ouviram falar de um vírus desconhecido a infetar pessoas na China e o casal decidiu, durante o pequeno-almoço, aplicar essa tecnologia no combate à nova ameaça.

Nasceu assim o “Project Lightspeed” (Projeto Velocidade da Luz) e 11 meses depois o Reino Unido tornava-se no primeiro país a aprovar a vacina de mRNA desenvolvida pela BioNTech, em pareceria com a gigante norte-americana Pfizer.

Uma semana após o Reino Unido, também os Estados Unidos aprovaram a vacina e dezenas de milhões de pessoas já foram inoculadas em todo o mundo, desde dezembro.

“Vale a pena tomar decisões arriscadas e confiar que se tens uma equipa extraordinária consegues resolver qualquer problema ou obstáculo que se atravesse no teu caminho em tempo real”, afirmou Ozlem Tureci.

Mas a pequena empresa sediada em Mainz, que ainda não tinha qualquer produto no mercado, tinha desafios enormes pela frente, tais como testar cientificamente a vacina em larga escala e conseguir produzir um volume suficiente para ir de encontro à procura a nível mundial.

Além da Pfizer, a empresa contou com a ajuda da chinesa Fosun Pharma para “conseguir os meios, capacidade e alcance geográfico que não tinha”, explicou Tureci.

Entre as principais lições que aprendeu com o seu marido e presidente executivo da BioNTech, Ugur Sahin, está a “importância da colaboração e cooperação internacional” na investigação científica.

Filha de imigrantes turcos na Alemanha, Tureci frisou que a empresa, que tem funcionários de 60 países, procurou sempre organismos de supervisão médica desde o início para assegurar que o novo tipo de vacina passaria no rigoroso escrutínio dos reguladores.

“O processo de aprovação de um medicamento ou vacina é onde muitas perguntas são feitas, muitos especialistas são envolvidos e acontece a revisão da restante comunidade a todos os dados e discurso científico”, disse a fundadora da BioNTech.

E face à suspensão da vacina da concorrente anglo-sueca AstraZeneca em vários países da Europa, Tureci descartou a ideia de que foram saltadas etapas por todos os que estiveram envolvidos na corrida à criação da vacina.

“Existe um processo muito rígido e que não termina após a vacina ser aprovada. Continua, na verdade, a decorrer em todo o mundo, onde os reguladores usam sistemas de reporte para monitorizar e avaliar quaisquer observações feitas à nossa ou a outras vacinas”, frisou.

Tureci assegurou que recebeu a sua própria vacina, assim como os colegas da BioNTech.

Por outro lado, a valorização da empresa durante a pandemia proporcionou-lhe fundos que pode agora usar para prosseguir o seu objetivo inicial de desenvolver uma nova ferramenta de luta contra o cancro.

As vacinas da BioNTech-Pfizer, tal como as da concorrente norte-americana Moderna, usam a tecnologia mRNA, em que um fragmento do código genético do vírus transporta instruções para o organismo humano conseguir desenvolver anticorpos específicos.

O mesmo princípio poderá ser utilizado para ajudar o sistema imunológico a combater os tumores.

“Temos várias vacinas diferentes contra o cancro com base na tecnologia mRNA”, disse Tureci, que é também diretora médica da BioNTech.

No entanto, questionada sobre quando poderá esse tipo de tratamento estar disponível, Tureci frisou que “é muito difícil prever o desenvolvimento de uma inovação”, mas mostrou-se esperançada em que “dentro de alguns anos possamos ter vacinas contra o cancro” para oferecer às pessoas.

Para já, Tureci e Sahin preocupam-se em assegurar que as vacinas encomendadas por Governos de todo o mundo são entregues e que as injeções respondem eficazmente a todas as novas mutações do vírus.

Na sexta-feira, o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier condecorou o casal com uma das mais altas insígnias do país, a Ordem de Mérito, numa cerimónia presenciada pela ‘chanceler’ Angela Merkel.

“Partiram de uma droga para tratar o cancro numa única pessoa, e hoje temos uma vacina para toda a humanidade”, elogiou Steinmeier.

Tureci admitiu que foi “uma verdadeira honra” receber a condecoração, mas insistiu que a vacina é o resultado do trabalho de muitas pessoas.

“É o resultado de muitos esforços: da nossa equipa na BioNTech, de todos os parceiros envolvidos, assim como Governos e entidades reguladoras que trabalharam todos juntos e com sentido de urgência. É um reconhecimento deste esforço e também uma celebração da ciência”, frisou Tureci.

LUSA/HN