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 14 ENTREVISTA
Ao nível da gestão consideramos que a questão ideológica tem de ficar de lado. Se temos relatórios que evidenciam que as Parceria Público-Privadas foram globalmente muito positivas em termos
de resultados para o Estado e para os cidadãos,
a AD vai olhar para esta questão. De qualquer forma, por parte da AD existe uma firme intenção de olhar para aquilo que são as possibilidades de estender modelos de Parcerias Público-Públicas. Os hospitais universitários são centros de produção de conhecimento, não são só assistenciais. As universidades podem ajudar-nos a encontrar soluções muito interessantes em termos de gestão destas unidades. Temos de retirar, daquilo que
são as burocracias do perímetro do Estado, a capacidade de gerir e de inovar. Estes são alguns dos problemas que os nossos gestores enfrentam todos os dias. Por isso é que a Aliança Democrática não fecha as portas a nenhum modelo de gestão que seja comprovadamente eficaz no que toca à satisfação dos doentes, profissionais de saúde e do sistema de saúde.
HN – O programa alerta que “há uma injustiça gritante no acesso aos cuidados de saúde em Portugal, com desigualdades crescentes entre
os mais pobres e os mais ricos, entre o litoral e
o interior, entre zonas urbanas, suburbanas e rurais”. Quando a AD propõe “um novo conjunto de incentivos para atração de profissionais de saúde” nas zonas mais carenciadas, de que incentivos estão a falar?
APM – As zonas carenciadas, onde habitualmente residem as populações mais vulneráveis e ultravulneráveis, têm de ter incentivos não apenas de natureza remuneratória, mas também a nível do acesso à habitação. Posso dar um exemplo,
já temos em Lisboa, com o presidente Carlos Moedas, um trabalho que está a ser feito de apoio a rendas acessíveis para os nossos profissionais
de saúde, nomeadamente os enfermeiros e os técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica, cujos salários são muito baixos para o custo de vida em Lisboa. Portanto, ao contrário daquilo que pensaríamos há duas décadas, os incentivos hoje para ficar nas áreas metropolitanas vão para
além da dimensão monetária. Temos de apostar na rede de mobilidade e no apoio da rede de creches. Muitos destes profissionais são jovens, pais e mães, que precisam de ter apoio a este nível.
Esta é uma das medidas que todos os hospitais procuram ter.
HN – Podemos então afirmar que o plano de motivação profissional, proposto pela AD, vai para além dos incentivos remuneratórios?
APM – Sim. O plano de motivação não é só por
via da remuneração, mas também por via das componentes sociais, como é o caso de creches para os filhos dos profissionais de saúde, do apoio às rendas e da flexibilidade laboral. Os modelos híbridos que são tão contemporâneos para estas novas gerações, são mais difíceis de atingir na área da saúde. Isto não quer dizer que seja impossível. Temos de ter uma reforma digital. Esta é uma das críticas que a AD faz aos últimos oito anos. Não fizemos a transição digital que precisávamos de fazer. Temos um PRR de 300 milhões de euros. Cabe-nos a nós perguntar qual é o caminho que estamos a fazer no que toca a esta questão. Como é que estão os hospitais? O que é que está a acontecer em relação ao sistema? O que é que está a ser feito para garantir novos modelos de trabalho digital? São estas as perguntas que iremos discutir na primeira semana se viermos a formar Governo. No âmbito deste plano de motivação podemos ter uma parte do trabalho, que é feito pelos médicos e enfermeiros, através da saúde digital ou de meios domiciliários.
HN – O registo eletrónico único, há tanto prometido, vai ser uma realidade com um governo da AD?
APM – Tem que ser. Todas as medidas de que falei não fariam sentido sem o registo de saúde eletrónico. É uma ferramenta essencial para que todas estas mudanças aconteçam.
HN – Como é que a AD prevê atender às exigências dos profissionais de saúde? Os sindicatos médicos estiveram quase 2 anos
em negociações com o Governo do PS, tendo apenas chegado a um acordo intercalar. Já os enfermeiros e as restantes classes nem tiveram essa oportunidade... Prevê-se, pois, que no pós nomeação do futuro governo a contestação, com todos os problemas de acesso que se lhe associam se irá manter.
APM – A AD está comprometida com esta questão. O nosso compromisso é de que iremos retomar as negociações com os médicos. E porquê? Porque
os aspetos remuneratórios foram salvaguardados pelo governo anterior, mas existem ainda muitos aspetos, nomeadamente motivacionais que têm de ser discutidos. Temos de olhar para flexibilidade horária e para o tempo laboral. Se calhar um médico com 70 anos já não quer trabalhar 40 horas por semana, quer trabalhar 20 ou 12 horas, mas é tão especializado em determinadas áreas médicas que nos fazem muita falta... Não podemos dar-nos ao luxo de desperdiçar estes recursos valiosíssimos.
Este plano de motivação vai envolver todos os aspetos que temos de trabalhar para conseguir atrair e vincular os profissionais. Não vamos reter ninguém. Somos completamente contra pactos de permanência.
O plano de recursos humanos na Saúde é a principal preocupação que a AD tem. É um plano estruturante que tem de ser construindo com
as profissões e com as ordens profissionais. Não temos medo das ordens. Muito pelo contrário, achamos muito importante ter sua a contribuição, uma vez que têm um estatuto que lhes permite regular a profissão e garantir aquilo que é a sua própria vocação. O Estado nunca fez bem isto. As nossas ordens profissionais têm muita maturidade na área da Saúde e são capazes se colocar o interesse público em cima da mesa. O Governo, que tem a obrigação de ouvir e ponderar, tem de fazer a arbitragem necessária.
HN – O funcionamento dos serviços de urgência tem marcado a agenda mediática dos últimos meses. A criação da Especialidade de Medicina
de Urgência e Emergência será a solução para este problema?
APM – Quando formos Governo, iremos debater esta questão. Estamos comprometidos e esperançados de olhar para o tema Especialidade de Medicina de Urgência como um passo para conseguir ter um serviço de urgência que seja mais dedicado. De qualquer modo, é preciso dizer também que a criação desta especialidade exige um modelo de remuneração próprio e uma reorganização do sistema. Isto é, implica termos cuidados de proximidade muito bons e que todas as especialidades possam convergir com estas equipas... E isso ainda não está devidamente afinado.
HN – A AD fala em reformular a Direção Executiva do SNS, o que é que isto significa? Vai ser dada maior autonomia, mais competências, mais recursos?
APM – Significa que vamos olhar para aquilo
que é hoje o modelo de governação. Temos de perceber o que é que na governação estamos a ter. A DE-SNS já tem algum tempo de existência. Tem naturalmente um relatório apurado do trabalho que tem feito. Portanto, é preciso falar com a Direção Executiva e perceber quais são
as perspetivas, os meios que dispõe e qual é
o modelo de trabalho que prevê com os seus estatutos. Por outro lado, vai ter de se questionar a rede do SNS sobre como é que avalia o desempenho da própria Direção Executiva. Isto
é muito importante. É preciso perguntar àqueles que estão à frente dos hospitais e dos centros de saúde se veem mais valor e se consideram que existem vantagens para o sistema. Portanto, aquilo que tiver de ser corrigido será corrigido. Aquilo que estiver a funcionar bem é para continuar.
Não nos podemos dar ao luxo de mudar o que está bem, mas também não podemos de manter o que está mal. Isso não é possível com a Aliança Democrática.
Entrevista de Vaishaly Camões
  






























































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