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ENTREVISTA
Alexandra Leitão: “Não faz sentido parar uma reforma cuja implementação se iniciou em janeiro deste ano”
Foram os profissionais de saúde o “calcanhar de Aquiles” do partido que governou Portugal na última década? Se a história recente se repetir, conseguirá o PS revitalizar- se e resolver os problemas que perturbaram urgências, diagnósticos e tratamentos durante a sua governação? Como é que o modelo ULS responderia às principais necessidades dos portugueses? A ex-ministra e jurista Alexandra Leitão, cabeça de lista por Santarém, respondeu a estas perguntas em entrevista ao HealthNews sobre o programa eleitoral do Partido Socialista: Plano de Ação para Portugal Inteiro.
HealthNews (HN) – A desmotivação dos profissionais de saúde é atualmente o principal problema do Serviço Nacional de Saúde? Na saúde, foi esse o “calcanhar de Aquiles” do Partido Socialista?
Alexandra Leitão (AL) – Os profissionais do serviço público de saúde são o coração do nosso Serviço Nacional de Saúde. Todos, sem exceção. Médicos, enfermeiros, assistentes operacionais, técnicos de saúde, todos dão corpo à maior conquista da nossa democracia. Hoje, são cerca de 150 mil, mais 30 mil do que em 2015, e continuar a valorizá-los é, naturalmente, uma obrigação.
Ninguém como o Partido Socialista trabalhou para valorizar as carreiras dos profissionais de saúde. Foi o Partido Socialista que alcançou um acordo para progressão salarial de 20 mil enfermeiros
e que chegou a acordo com os médicos para aumentos de 15% na entrada da carreira. Mais, criámos o regime de dedicação plena, que permite aumentar em 43% os médicos que aderem a este modelo, generalizámos as Unidades de Saúde Familiar modelo B, que pagam mais 60% a todos os profissionais, e os Centros de Responsabilidade Integrados, que remuneram os profissionais em mais 43%. Na verdade, com o Partido Socialista no poder, foi possível investir mais 83% em pessoal do SNS, o que representa mais de 6,3 mil milhões de euros.
Agora estamos empenhados em encontrar formas de reforçar este caminho que tem de ser feito com os profissionais, num espírito de diálogo e de compromisso.
HN – “Insanidade é continuar a fazer sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes.” Um estudo da Faculdade de Economia da Universidade do Porto alerta que sem mudança de políticas podemos cair para antepenúltimo em nível de vida em 2033. Na saúde, com o Partido Socialista novamente no poder, Portugal pode realmente mudar para melhor, ultrapassando os principais obstáculos e fragilidades?
AL – Se há certeza que podemos ter é que o Governo do Partido Socialista não fez a mesma coisa na área da saúde. Na verdade, o processo de reorganização e modernização do Serviço Nacional de Saúde não parou desde 2015, mesmo quando o país teve de responder coletivamente, com grande impacto na área da saúde, a uma pandemia sem precedentes.
O Serviço Nacional de Saúde está a viver a maior reorganização desde a sua fundação. Depois da criação da Direção-Executiva do SNS, em 2024 arrancou uma nova fase da reforma organizativa do SNS, com o alargamento a todo o território nacional das Unidades Locais de Saúde (ULS) e a generalização das Unidades de Saúde Familiar de modelo B nos cuidados de saúde primários.
Este ano o SNS faz 45 anos e muita coisa mudou nestas mais de quatro décadas: as necessidades em saúde da população, as suas expetativas e exigências, a disponibilização de inovação em saúde. O que sabemos é que é mesmo o SNS que garante cuidados de saúde para todos sem exceção, em todo o país, independentemente da complexidade das doenças ou da disponibilidade financeira de cada um.
Não tenhamos dúvidas: só um SNS assente nos princípios da solidariedade, universalidade e gratuitidade poderá responder com qualidade e tempo às necessidades de saúde da população. É por isso que o estamos a reestruturar e a preparar para responder às gerações de amanhã.
HN – A Associação Portuguesa de Seguradores revelou que, no primeiro semestre de 2023, quase 3,6 milhões de portugueses tinham seguro de saúde. Como é que o PS, defensor de um “Estado social moderno e inclusivo, que efetive os direitos sociais e combata a pobreza, um Serviço Nacional de Saúde resiliente que deve ser reformado e continuamente melhorado e não descapitalizado e privatizado”, citando o programa eleitoral, encara este número?
AL – Só posso comentar a relevância desse número