Page 3 - Healthnews - Especial Eleições 2024
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6 ENTREVISTA
se considerarmos, de igual forma, a relevância da sua taxa de utilização. É que os seguros de saúde não chegam a representar 4% de todas as despesas em saúde realizadas em Portugal.
O que este dado revela é que é no serviço público de saúde que as pessoas mais confiam e ao que mais recorrem, porque é nele que encontram as respostas mais diferenciadas aos problemas mais complexos. Os portugueses sabem que o SNS é
a única garantia de cuidados de qualidade nos momentos de maior adversidade e nos momentos de maior fragilidade.
Acrescentaria ainda, se me permite, que não podemos ignorar que muitas destas adesões a seguros privados são “involuntárias”, resultam
de contratos de trabalho e da forma como a generalidade das empresas privadas, num quadro de responsabilidade social e de manutenção da sua atratividade de contratação, reforçam os benefícios laborais através de seguros de saúde.
HN – Se vencerem as eleições, o que é que vão fazer para acabar com os atrasos em consultas, exames e cirurgias?
AL – O SNS registou, nos anos mais recentes, uma atividade assistencial sem precedentes. Em 2024, o serviço público de saúde assegurou mais de 13 milhões de consultas nos hospitais, mais de 800 mil cirurgias e mais de 33 milhões de consultas nos centros de saúde. Deu resposta a mais de 6 milhões de episódios de urgência.
Portanto, o sistema está a responder ao aumento das necessidades de saúde de uma população
que vive mais, com maior carga de doença e mais exigente. Temos mesmo de continuar o caminho de recuperação da atividade pós-pandemia, que se contraria produzindo ainda mais no SNS.
Daí o nosso compromisso com mais recursos financeiros, mais recursos humanos e mais atividade, investimento que será ancorado no novo modelo organizativo, com a criação das Unidades Locais de Saúde, permitindo assim responder às
necessidades dos cidadãos em proximidade e numa lógica de integração de cuidados. Os Centros de Responsabilidade Integrados, a nível dos cuidados hospitalares, permitem também premiar a inovação e o desempenho dos profissionais, aumentando a sua produtividade, com a garantia de que os cidadãos passam a usufruir de mais acesso e melhores resultados em saúde.
HN – A grande aposta do PS é realmente o modelo ULS? Como é que a organização que abraçaram conseguirá resolver os principais problemas dos portugueses: acesso, tempo de espera, pobreza e falta de profissionais de saúde?
AL – A visão das ULS quebra a tendência hospitalocêntrica do nosso país, considerando os cuidados de saúde primários e trazendo outras instituições para as decisões de saúde, como
o poder local, as escolas e as instituições de solidariedade social, dando sentido à ideia de comunidade.
Pela sua importância, amplitude e dimensão, não faz sentido parar uma reforma cuja implementação se iniciou em janeiro deste ano. Este facto só
nos responsabiliza mais e por isso temos mesmo de acompanhar e avaliar esta reorganização no terreno e ajustar o que for necessário.
Mas não tenhamos dúvidas: o alargamento das ULS a todo o país, ao reunir numa única gestão
os hospitais, os centros de saúde e os cuidados continuados de uma determinada região, só
pode ser bom para o utente. Facilita o percurso das pessoas no sistema de saúde, ao integrar as respostas. É o sistema que se organiza em torno
da pessoa e não a pessoa que tem de procurar saber onde se dirigir. Esta mudança é mesmo uma qualificação da resposta do SNS e um importante contributo para garantir cuidados de saúde atempados e de qualidade à população, e para melhorar os indicadores de saúde e bem-estar no país.
HN – Relativamente aos profissionais de saúde, como é que os podem motivar e fixar no SNS?
AL – Existe trabalho a fazer para fortalecer os progressos obtidos nos últimos oito anos de governação, e para isso é necessário insistir na criação de um ambiente de diálogo e cooperação. As lideranças têm um papel fundamental na motivação e no apoio aos trabalhadores, mas também na dignificação do serviço público de saúde.
Entendemos que, para além das questões salariais, é necessário considerar na equação as aspirações de uma nova geração de profissionais de saúde que justamente relevam a justiça organizacional, as exigências laborais e a conciliação entre o trabalho e a vida pessoal e familiar.
No âmbito da valorização dos profissionais de saúde, estamos determinados a aprofundar o processo de revisão das carreiras e de valorização salarial, apostando claramente num modelo de formação e investigação, ao mesmo tempo que melhoramos as condições de trabalho. Neste processo, continuaremos firmemente a incentivar a dedicação plena e em exclusividade ao SNS, através de incentivos à produção.
No contexto de combate à iniquidade territorial no acesso à saúde, estamos também determinados em criar um sistema de incentivos aos profissionais que trabalhem em territórios menos atrativos, através de apoios ao alojamento e às famílias.
HN – O que propõe o PS se as greves dos profissionais de saúde continuarem e com isso dezenas de urgências encerrarem semanalmente, medicamentos não forem entregues e cirurgias e consultas tiverem de ser adiadas?
AL – Partimos para esta campanha com uma convicção muito forte: o Partido Socialista
fez imenso pela valorização das carreiras dos profissionais de saúde, mas este progresso social e laboral merece ser e tem de ser aprofundado. Este caminho só pode ser feito numa base de diálogo e de cooperação, franca, constante e permanente. Esse é um ponto de partida do qual uma sociedade moderna e progressista não pode abdicar.
HN – Quais são as principais medidas do PS para os cuidados de saúde primários (relembrando os mais de 1,7 milhões de portugueses sem médico de família) e para os cuidados hospitalares?
AL – A prestação de cuidados de saúde não
pode, com a atual reforma organizativa do SNS,
ser compreendida sem considerar a criação das novas Unidades Locais de Saúde, que permitem aproximar os cuidados do cidadão e do seu ciclo de vida, e a generalização das USF modelo B, que alargam o número de pessoas com médico de família e valorizam os profissionais destas unidades de saúde.
Em relação aos médicos de família, sabemos que estamos a atravessar o pico das reformas, mas também estamos a formar cerca de 2 mil médicos, 500 profissionais por ano, que nos permitirão reduzir as dificuldades que enfrentamos.
No âmbito da valorização e diversificação dos cuidados de saúde de primários, porta de entrada no Serviço Nacional de Saúde, o Partido Socialista está determinado em reforçar e diversificar a oferta de cuidados de proximidade, melhorando o acesso a respostas de saúde oral e visual, pediatria, terapia da fala, psicologia clínica, saúde mental e nutrição. Neste âmbito consideramos prioritária a criação de uma rede de atendimento permanente, a funcionar em centros de saúde de referência, que serão equipados com alguns tipos de meios complementares de diagnóstico, contribuindo
para reduzir o recurso às urgências hospitalares,
e reforçar as respostas imediatas a pessoas sem médico e enfermeiro de família, mobilizando equipas multiprofissionais, envolvendo médicos
e enfermeiros e outros profissionais a serviço ou que estejam aposentados. Determinante será também generalizar os rastreios visuais e auditivos na infância e prosseguir o reforço da oferta de cuidados de saúde oral de proximidade, através da criação da carreira de medicina dentária no SNS.
Nos cuidados hospitalares, apostaremos na criação de centros de excelência clínica no SNS, com os recursos humanos e tecnológicos necessários,